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Folha de S. Paulo
Uma
das explicações para o fracasso do Brasil é que ele é atávica e renitentemente
corporativista
Uma
das explicações para o fracasso do Brasil é que ele é atávica e renitentemente
corporativista. Em vez de as pessoas se pensarem como cidadãs de uma República
de iguais, veem-se (e agem) como membros de corporações que se julgam
detentoras de direitos especiais.
Tanto o STF como o STJ enviaram à Fiocruz ofícios em
que pediam a "reserva" de alguns milhares de doses de
vacinas contra a Covid-19 para aplicação em seus servidores.
Mais espertos do que o grupo de promotores paulistas que tentara uma
despudorada carteirada para a categoria furar a fila da imunização, os
responsáveis pelos tribunais evitaram o uso de termos como
"prioridade" e "preferência". Escreveram os ofícios de um
jeito que ficava parecendo que receber as vacinas era uma espécie de sacrifício
que as cortes fariam em prol da coletividade.
Felizmente, a Fiocruz, num raro exemplo de espírito republicano, rejeitou ambos os pedidos, enfatizando que toda a produção de vacinas será destinada ao Ministério da Saúde e que a fundação não estava reservando doses nem para seus próprios funcionários.
Como já escrevi aqui, não há um critério único para organizar filas éticas.
Pode-se dar a prioridade aos mais vulneráveis ou aos mais expostos ou ainda
proceder a diferentes combinações dessas duas lógicas. Só o que não faz
sentido, em termos éticos, é dar preferência a grupos específicos pelo fato de
eles terem mais prestígio ou mais poder de influenciar. As duas mais altas
cortes do país deveriam saber disso e dar o exemplo. Lamentavelmente,
preferiram a carteirada envergonhada.
A crer nas ideias de economistas como Daron Acemoglu e James Robinson, o que
distingue nações que fracassam das que dão certo é o desenho de suas
instituições. Quando elas servem primordialmente a elites extrativistas, o país
naufraga; quando são inclusivas, o desenvolvimento chega. O corporativismo está
matando o Brasil.
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