O Globo
Enquanto os tucanos se depenam nas prévias,
Sergio Moro tenta avançar sobre as bases do bolsonarismo. A campanha do ex-juiz
virou uma espécie de bote salva-vidas. A cada dia recolhe um novo náufrago do
governo.
Ontem Moro celebrou a filiação do general
Santos Cruz ao Podemos. O militar integrou a primeira leva de ministros de
Bolsonaro. Em menos de seis meses, foi enxotado do palácio.
A presidente do Podemos, Renata Abreu,
definiu o novo correligionário como um “homem de combate”. “Você representa uma
instituição de muita credibilidade no país”, derramou-se. Ela se referia ao
Exército, que deveria permanecer afastado da política.
Moro aposta em Santos Cruz para dividir o voto dos militares. Em 2018, a tropa marchou unida com Bolsonaro. Em 2022, o ex-juiz também terá um cabo eleitoral nos quartéis.
Ao receber o general, o presidenciável
acusou “governos passados” de tratar os fardados com “viés negativo”. Um recado
claro para milhares de oficiais que temem perder cargos e privilégios em caso
de derrota do capitão.
Além de polir o próprio currículo, Moro
quer reescrever a história de Santos Cruz. Ontem ele disse que o general “não
teve nenhum receio de se retirar do governo” quando percebeu que Bolsonaro não
estava interessado em “construir um país melhor”.
O discurso soa bonito, mas não se sustenta
em fatos. Santos Cruz nunca se retirou: foi retirado. Caiu por obra do vereador
Carlos Bolsonaro, que manda e desmanda no governo do pai.
O general estreou no palanque com um
desfile de platitudes. “A filiação partidária é um ato político”, disse. “O
respeito tem que ser restaurado no Brasil”, prosseguiu. “O sinônimo de educação
é esperança”, filosofou.
Em outro momento, ele condenou o extremismo
e disse que a eleição não pode ser contaminada por fanatismo e fake news. Em
2018, o general acusou o rival Fernando Haddad de ligações com o fascismo e o
nazismo.
Santos Cruz não é o único náufrago a pular
no bote de Moro. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que também sonhava com o
Planalto, já se insinua para a vaga de vice do ex-juiz.
Ontem o presidenciável almoçou com o
general Rêgo Barros, outro dissidente do bolsonarismo. Ex-porta-voz do governo,
ele agora se dedica a redigir artigos com indiretas para o capitão. “Deus te
guarde de quem te queira magoar”, escreveu, na quarta-feira.
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