quinta-feira, 30 de junho de 2022

Merval Pereira: Pedras no caminho

O Globo

O caso de Pedro Guimarães, que não à toa era conhecido como “Pedro Maluco” no mercado financeiro, de onde veio para a equipe de Paulo Guedes para dirigir a Caixa Econômica Federal, é típico da política brasileira. Ela guarda surpresas a cada eleição presidencial. Recentemente tivemos o escândalo do mensalão, que deu ao então tucano Alckmin inacreditáveis 41% no primeiro turno contra Lula em 2006, e a morte trágica do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que poderia ter sido a surpresa da eleição de 2014, papel que Marina Silva assumiu em seu lugar para ser destroçada por uma campanha sórdida dos dois principais concorrentes, a petista Dilma e o tucano Aécio.

O Plano Real pegou de surpresa Lula em 1994 e elegeu Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. O caçador de marajás Collor de Mello atropelou dois políticos tradicionais da esquerda, Lula e Brizola. Surgem fatos que retiram as chances de candidatos, como Roseana Sarney, abatida em pleno voo por pacotes de dinheiro vivo, e outros que quase atrapalham, como a prisão dos “aloprados” petistas comprando dossiês contra tucanos.

Tudo indica que novos fatos surgirão no caminho durante a campanha, outros serão relembrados na propaganda oficial, levando a que dificilmente Lula vença no primeiro turno. Mas ele está se esforçando. Começou a campanha anunciando várias medidas e posições não radicais, parecia querer ressuscitar o “Lulinha Paz e Amor” de 2002, mas provocou a ira da esquerda extremista do PT, a que teve de dar espaço na campanha.

Resultado: falou uma série de coisas que provocaram reações no eleitorado, como acabar com a reforma trabalhista, o fim do teto de gastos, posicionou-se a favor do aborto, reforçando as críticas de Bolsonaro sobre um suposto Lula contrário à vida, e tropeçou em outros assuntos delicados. Para criticar Bolsonaro, Lula deu a entender que policial não é gente numa frase mal elaborada e teve de pedir desculpas.

Lula também exortou seus seguidores a pressionar os políticos em suas casas, junto às famílias, o que provocou uma reação do meio político. Teve de voltar atrás em vários pontos e agora de novo está a correr para o centro democrático e para os empresários, porque está vendo a chance de vencer no primeiro turno. Tenta ampliar a base de seu eleitorado com votos da centro-direita, auxiliado também pelo governo Bolsonaro, que está perdido, em meio a problemas de toda ordem, como o envolvimento do presidente da Caixa em assédio sexual.

Lula tenta se reaproximar de Michel Temer, acusado por setores petistas de ter derrubado a ex-presidente Dilma no impeachment, e de Marina Silva, sua ministra do Meio Ambiente que deixou o governo com queixas contra as posições da sucessora de Lula. Não chega a ser uma nova Carta aos Brasileiros, mas ele faz movimentações de quem quer realmente terminar a eleição no primeiro turno.

A questão central nesta campanha, em que a radicalização da extrema direita destaca um perigo atribuído à extrema esquerda petista, é que o país é conservador. Lula nunca foi eleito devido às plataformas radicais de seus “aloprados”, mas a sua capacidade de composição com o centro, mesmo que por meio de métodos sujos.

Antes dele, Fernando Henrique Cardoso já havia entendido que, para governar o país, não basta ganhar a eleição, mas é preciso uma base ao centro, até a direita não radicalizada. Foi buscar o apoio do PFL, oriundo da Arena dos militares, causando furor na esquerda de então. Foi o único presidente até hoje a ser eleito e reeleito no primeiro turno, e Lula se ressente disso.

Em 2006, Lula ficou tão abalado com a votação espantosa de Alckmin no primeiro turno que sumiu durante uma semana. Foi só um susto que o eleitorado quis lhe dar, pela arrogância de ter se recusado a participar de debates e pela própria crise do mensalão, que até hoje marca as gestões petistas. Alckmin, hoje seu parceiro de chapa, conseguiu a proeza de ter menos votos no segundo turno que no primeiro, e Lula venceu a eleição com folga.

A possibilidade de vencer pela primeira vez no primeiro turno faz o ex-presidente voltar-se para o centro, mas seu passado o condena. As cenas do mensalão e do petrolão serão reavivadas, e mesmo a Lava-Jato, destroçada com o auxílio de Bolsonaro, será ressuscitada por ele na campanha. Se Simone Tebet conseguir unificar MDB e PSDB, o que parece quase uma missão impossível, pode ter uma brecha para explorar. Lula, de qualquer maneira, tem vantagem sobre Bolsonaro, que, além do passado que o condena, tem um presente a persegui-lo.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Se o passado do Lula é sujo,o passado,o presente e o futuro de Bolsonaro é sujíssimo.