Folha de S. Paulo
Presidente usa risco como arma política,
mesmo quando finge amenizar as próprias bravatas
Parecia até que o presidente havia sido
tomado por mais
um pressentimento. Horas antes de a Polícia Federal bater na porta de oito
empresários que discutiam
casualmente um golpe de Estado, Jair Bolsonaro dizia para 43 milhões de
brasileiros que defender o fechamento do STF não era "nada de mais".
"Para mim, isso daí faz parte da democracia", afirmou, no Jornal
Nacional.
A afinidade de Bolsonaro com a ideia de uma
ruptura democrática não é nenhuma novidade. Mas é interessante observar como o
presidente emite um tipo de salvo-conduto e estimula o golpismo entre seus
seguidores mesmo quando ele próprio age estrategicamente para reduzir o volume
dessas bravatas.
Bolsonaro insiste na circulação da ameaça porque explora o fantasma do golpe como arma política. Em primeiro lugar, a retórica da ruptura ajuda o presidente a se vender como líder de uma guerra contra "o sistema" e manter o engajamento de seus apoiadores mesmo nos momentos em que ele parece frágil.
O capitão também usa esse risco numa
espécie de extorsão. Em nome de uma suposta pacificação, aliados espalham pelos
tribunais a versão de que o presidente vai abandonar os ataques à democracia e
a postura conflituosa caso determinadas exigências sejam cumpridas. A
negociação nunca se concretiza porque o único beneficiário da história é o
próprio Bolsonaro.
No fundo, o presidente ainda alimenta a
hipótese de um golpe porque parece acreditar verdadeiramente nesse caminho.
Mantendo a possibilidade no ar, ele tenta calcular a adesão a um processo de
ruptura liderado por ele, incluindo setores sensíveis como as Forças Armadas e
o empresariado.
O presidente só consegue sustentar esse
risco graças à boa vontade de instituições como o Congresso e a
Procuradoria-Geral da República. Augusto Aras, aliás, não escondeu de aliados a
contrariedade com a ação da PF que mirou empresários golpistas. Se
dependesse dele, haveria mais gente falando de golpe por aí.
Um comentário:
Bolsonaro e sua laia.
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