quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro ganhou mais do que perdeu no JN

Correio Braziliense

A entrevista estabeleceu um padrão de questionamento dos entrevistadores aos entrevistados que deve se repetir com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

O presidente Jair Bolsonaro se saiu melhor do que a encomenda na entrevista concedida a Willian Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional, segunda à noite. Cobrado insistentemente pelos dois apresentadores sobre temas que são as causas de sua alta rejeição, como a atuação durante a pandemia de covid-19 e a questão ambiental, saiu pela tangente, mentiu às vezes, porém, não perdeu a cabeça e partiu para a agressão verbal, como acontece na maioria das entrevistas “quebra-queixo” que concede, quando é confrontado por algum jornalista.

Nas redes sociais, durante a entrevista, bolsonaristas e petistas, principalmente, travaram uma guerra virtual que repercutia a sabatina em tempo real. Principalmente no Twitter, Bolsonaro perdeu as batalhas quando tratou das urnas eletrônicas e das ameaças de golpe, da crise da falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e das vacinas. Também não ficou bem na fita quando negou corrupção no governo. Mas, se saiu melhor quando falou do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e da aliança com o Centrão. Na métrica do monitoramento das redes sociais, teve em torno de 35% de menções positivas e 65% de menções negativas. Não foi um mau resultado.

Por que a conclusão de que se saiu melhor do que a encomenda? Porque Bolsonaro alcançou seu objetivo de não frustrar seus eleitores e não afrontar os que votaram nele nas eleições passadas e, agora, estão voltando para sua base eleitoral. Essa foi a estratégia do seu estado-maior para a entrevista. O outro lado da moeda é a cobrança que está sendo feita aos jornalistas da TV Globo, principalmente pelos petistas, que acaba favorecendo também o presidente da República.

A reação contrária dos bolsonaristas já estava prevista; a dos petistas, não. Parece que tinham a expectativa de que Bolsonaro seria “nocauteado” por Willian Bonner e Renata Vasconcellos, que foram bastante agressivos e contundentes, mas não perguntaram tudo o que os petistas gostariam, quando nada, porque os questionamentos foram longos demais e, em alguns momentos, geraram réplicas e tréplicas.

Temas como o caso das “rachadinhas”, escândalo na Assembleia Legislativa do Rio envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o envolvimento do clã com as milicias do Rio de Janeiro ficaram fora da pauta. Como Bolsonaro levou uma “cola” anotada na palma da mão, surgiu a versão de que eram anotações que visavam intimidar os dois entrevistadores, com referências negativas à emissora, cuja concessão vencerá no dia 5 de outubro e precisa ser renovada. Outros, porém, e não apenas os bolsonaristas, avaliam que os dois jornalistas se comportaram como se fossem debatedores, e de forma desrespeitosa.

Padrão Globo

Mas, o que incomoda mesmo aos petistas é saber que o favorito nas pesquisas de intenção de voto até agora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, receberá o mesmo tratamento dado a Bolsonaro por Bonner e Renata. A TV Globo precisa manter uma posição de independência e neutralidade em relação aos candidatos, o que exige tratamento isonômico. Isso será um problema para o petista. Sua entrevista ao Jornal Nacional, na quinta-feira, pode exumar pautas muito desconfortáveis, como os escândalos do “mensalão” e da Petrobras, além de outros assuntos negativos para Lula ou comentários infelizes, que sua campanha procura contornar a todo custo.

A avaliação dos marqueteiros de Bolsonaro sobre sua atuação na entrevista é tão otimista que o presidente da República já está cogitando comparecer ao debate entre candidatos à Presidência organizado pelo consórcio de emissoras de TV, que antes havia rechaçado, assim como o ex-presidente Lula. É uma decisão estratégica que faz todo o sentido, porque Bolsonaro parece ter consolidado seu lugar no segundo turno e não teria mais nada a perder num confronto aberto com Lula: seria a antecipação do debate do segundo turno. A estratégia de Bolsonaro é reduzir sua rejeição e aumentar a de Lula, para ganhar a eleição.

Em princípio, Bolsonaro reafirmou suas posições: manteve as suspeitas sobre as urnas eletrônicas; atacou o Ibama e os ambientalistas que criticam o governo por causa da Amazônia; reiterou seu negacionismo quanto à pandemia, criticou o lockdown e defendeu o tratamento precoce da covid-19 com cloroquina. Tentou resgatar a bandeira da ética ao negar a existência de corrupção no seu governo e capitalizar a queda da inflação, o pagamento do Auxílio Emergencial e geração de empregos. Esse é o rumo da sua campanha. De acordo com essa estratégia, Bolsonaro não subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, que, ontem, autorizou uma operação de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas suspeitos de envolvimento com disseminação de fake news e articulações golpistas.

Obs: Como escrevi a coluna antes da entrevista de Ciro Gomes ao Jornal Nacional, ontem à noite, comentarei seu desempenho na edição de amanhã.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Com a mesma naturalidade que vocês vem e defende a candidatura do Lula, tirado da cadeia condenado a mais de 20 anos por corrupção e lavagem de dinheiro , vocês agora estão comentando essa arbitrariedade do ministro Alexandre de Moraes , completamente inconstitucional, em que pessoas em um grupo privado do WhatsApp comentavam assunto sobre governo e tiveram busca apreensão da Polícia Federal, contas na internet e bancárias bloqueadas,
Nós estamos vivendo momentos terríveis para democracia porque a base que são as liberdades de expressão e manifestação , o que estamos vendo é uma naturalização da censura por parte de jornalistas, que juraram defender a liberdade de expressão e a verdade
A nossa democracia foi ferida precisamos restaura la urgentemente

Anônimo disse...

Em nome da defesa da democracia , o ministro Alexandre de Moraes tem cometido as maiores arbitrariedades, dignas de um país em que é governado por uma ditadura. Em nome “defesa “da democracia ele tem prendido pessoas, cassado parlamentares, fechado jornais da internet, desmonetizados Blogs das plataformas digitais ou seja promovendo uma verdadeira caça às bruxas por quaisquer manifestação contrária a sua vontade, que é imediatamente classificada de Fake News e o seu promotores identificado cassado e presos
1984 é aqui agora , a nossa democracia já caiu perante a espada desse verdugo de toga
Precisamos Ergue la com urgência!
para o bem de todos e felicidade geral da nação que hoje vive o medo de falar

ADEMAR AMANCIO disse...

Não vi a entrevista,não posso dizer nada,dificuldade pra falar ele sempre teve.