sábado, 24 de setembro de 2022

Carlos Alberto Sardenberg - O voto FH

O Globo

Ele está pedindo aos brasileiros que no primeiro turno votem em Lula, Simone ou Ciro; no segundo, se houver, Lula, sem dúvida

Em circunstâncias normais, Fernando Henrique Cardoso pediria voto para a chapa Simone Tebet (MDB) e Mara Gabrilli (PSDB). FH é simplesmente o maior nome da história do PSDB, como teórico e político, e as duas senadoras são pessoas de indiscutível valor.

Mas as circunstâncias são anormais. Começa que o PSDB é uma ave em extinção. Há candidaturas interessantes aqui e ali, mas distantes da social-democracia, a centro-esquerda que construiu boa parte das boas instituições atuais, a começar pela moeda.

A rigor, pode-se dizer que FH e seus velhos companheiros não se reconhecem mais nesse PSDB. Eles sempre foram mais à esquerda e não se conformaram, em 2018, com governadores eleitos na onda bolsonarista.

Mara Gabrilli não estava nessa onda, permanece tucana rara. Simone Tebet aparece como uma possível nova liderança numa centro-esquerda mais atualizada. Ambas merecem o voto de FH.

Mas a chapa não decolou. Inversamente, o bolsonarismo mostrou-se pior que as piores expectativas. É preciso derrotá-lo de maneira exemplar — eis um dos textos implícitos na nota de FH, escrita por companheiros mais próximos e divulgada no último dia 22. E quem pode aplicar essa derrota é Lula.

Sendo assim, por que FH não pediu votos diretamente para Lula? Aqui pesaram sua história e uma compreensão mais ampla da política brasileira. A nota defende a democracia, o combate às desigualdades, a garantia de direitos iguais, compromisso com ciência, educação e preservação ambiental, além da restauração da posição internacional do Brasil, aliás engrandecida nos dois governos FH. Ora, Simone Tebet e Mara Gabrilli têm plena identidade com essas propostas. Ciro também pode assiná-las. Daí minha interpretação: FH está pedindo aos brasileiros que no primeiro turno votem em Lula, Simone ou Ciro; no segundo, se houver, Lula, sem dúvida.

Reparem que a nota não traz nenhuma menção a política econômica, muito menos ao tema da corrupção. Fica na política e nos princípios sociais. Economia certamente dividiria as três chapas. FH foi o introdutor da noção de estabilidade fiscal, monetária e das privatizações. Isso está na chapa Tebet/Gabrilli. Mas Lula e Ciro têm se manifestado contra. Tebet e Ciro atacam a corrupção, Lula foge do assunto.

Eis por que a derrota do bolsonarismo, da extrema direita e do fascismo é um passo essencial, mas não recoloca o Brasil no rumo do crescimento sustentado e socialmente justo, sobretudo porque o líder Lula não apresentou programa econômico com começo, meio e fim.

Desse ângulo, talvez um segundo turno tivesse a propriedade de levar Lula, agora com papel importante de Alckmin, a buscar alianças ao centro. A tarefa do próximo governo é complicada. Sobram problemas imediatos e estruturais: inflação, contas públicas esfaceladas, baixa capacidade de investimento público, ambiente pouco favorável ao investimento privado, desastres ambientais, sistema de combate à corrupção desmontado.

Reparem: políticas ambientais e combate à corrupção constituem hoje requisitos internacionais para o posicionamento político e econômico de qualquer país, ainda mais de um emergente grandão como o Brasil.

De outro lado, na medida em que o Ocidente perdeu a confiança na Rússia e se incomoda cada vez mais com a ditadura chinesa, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um polo confiável.

Vejam quanto se demanda de um novo governo.

Finalmente, muitos argumentam que uma vitória de Lula no primeiro turno seria um antídoto a qualquer tentativa de golpe. Mas, se há mesmo militares se preparando para um golpe, o que não se vê, tanto faria ser no primeiro ou no segundo turno.

Uma vitória esmagadora de Lula, mas com ampla coalizão no segundo turno, seria um golpe duradouro na extrema direita. Além disso, somando os votos de Lula, Simone e Ciro no primeiro turno, isso já caracterizaria a derrota da extrema direita.

A ver.

6 comentários:

Fernando Carvalho disse...

Bolsonaro disse que a ditadura de 64 deveria ter matado 30 mil inclusive FHC. Creio que Fernando Henrique deveria ser mais enfático na defesa de Lula que envarna a frente democrática contra o nazismo caricato do boçal.

Anônimo disse...

Concordo. Parece clichê mas fhc está super parecido com um tucano EM CIMA DO MURO!
Estamos num momento ímpar, perigosíssimo de nosso país e a superficialidade e sua maneira de se manifestar! Se eu não soubesse q é verdadeiro eu negaria.
Puts, FHC, o Brasil precisa q vc descaso muro.

jotaaugusto2011@gmail.com disse...

Admiro demais FHC, mas ele precisa ser direto nesta hora tão difícil

Anônimo disse...

Já decidi, Lula nunca mais. Seu
passado o condena pela eternidade a fora. Também e difícil engolir seus militantes. Vou me embora do país e me alistarei para combater na Ucrânia contra a Rússia, sera menos traumático que novamente o PT.

ADEMAR AMANCIO disse...

Já li que Simone Tebet é de centro direita,o artigo diz que ela é de centro-esquerda,aí complica,rs.

Anônimo disse...

FHC é um traira e impostor. Posa de ter feito o REAL e traiu ITAMAR, o verdadeiro construtor. Além de tudo é um esnobe antipático. VPPQP.