quarta-feira, 15 de março de 2023

Bernardo Mello Franco - A casa dos 513 empreendedores

O Globo

Lira aumenta pressão, e União Brasil arranca mais cargos sem garantir apoio ao governo

Com dois meses e meio de governo, Lula ainda não sabe com quantos votos pode contar na Câmara. Na semana passada, o deputado Arthur Lira assustou os petistas ao dizer que o Planalto não tem uma base “consistente” para aprovar projetos que exijam maioria simples. “Quanto mais matérias de quórum constitucional”, acrescentou.

Lira é especialista em criar dificuldades para vender facilidades. Assim chegou ao comando do Centrão, mastigou o governo Bolsonaro e se tornou o todo-poderoso presidente da Câmara. Seu diagnóstico é interessado, mas não parece muito distante da verdade.

Num cenário de alta fragmentação partidária, as siglas que apoiaram Lula conquistaram apenas 122 das 513 cadeiras. Encerrada a eleição, o presidente passou a oferecer ministérios para tentar atrair outras legendas. As mais agraciadas foram MDB, PSD e União Brasil, com três pastas cada.

A negociação só foi concluída em 29 de dezembro, às vésperas da posse. No mesmo dia, o líder do União Brasil disparou um torpedo na direção do palácio. “O partido seguirá independente”, avisou Elmar Nascimento.

O deputado atacou Lula na campanha e ficou enfezado ao não ganhar um ministério. No entanto seria ingenuidade pensar que ele quer retaliar o governo por razões meramente pessoais. Elmar não faz nada sem combinar com Lira.

Além da voracidade da dupla, parlamentares apontam outro problema para a montagem da base governista. Após a derrubada do orçamento secreto, os deputados ganharam ainda mais recursos para gastar como desejam. Agora cada um tem direito a destinar R$ 32,1 milhões em emendas individuais e impositivas. Isso reforçou a lógica do cada um por si — já favorecida por um modelo em que o eleitor vota em pessoas, não em partidos.

Em artigo na Folha de S.Paulo, o cientista político Antonio Lavareda alertou sobre os riscos causados por esse sistema disfuncional. Ele definiu a Câmara como um agrupamento de 513 “empreendedores individuais”, cada vez menos amarrados a acordos partidários.

Sem saber onde pisa, o governo dobra a aposta em operações no varejo. O União Brasil ainda não garantiu os votos prometidos, mas acaba de ser presenteado com novos cargos no segundo escalão. O pacote incluiu diretorias dos Correios, Telebras, Codevasf, FNDE e Dnocs.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Lula e Lira,uma dobradinha do...