O Estado de S. Paulo
Com herança maldita, crise fiscal e o tempo correndo, sobram ansiedade e pressa
É imensa a responsabilidade do ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, já que o governo Luiz Inácio Lula da Silva começou
com uma expectativa alegre e colorida, mas encontrou uma herança maldita,
enfrentou terroristas em 8 de janeiro e, no terceiro mês, continua convivendo
com altos índices de desmatamento na Amazônia e uma inflação não apenas alta,
como mais alta do que o previsto.
Pelo MapBiomas, o Brasil perdeu 536 mil
hectares para o fogo entre janeiro e fevereiro. É 28% menos do que no mesmo
período do ano passado, mas 90% da área queimada foi na Amazônia.
Não há o que comemorar. E o Boletim Focus aumenta a projeção de inflação, de 5,90% para 5,96% em 2023, muito acima do teto da meta, de 4,75%. Inflação breca a queda dos juros e a decolagem do desenvolvimento.
“Viu os resultados da inflação e do
desmatamento da Amazônia? Se não houver mudanças em seis meses, pode complicar
muito politicamente”, alerta Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington e
Londres, hoje presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio
Exterior (Irice). O que mais preocupa, e atiça as redes bolsonaristas, é que o
governo não para de anunciar projetos que exigem gastos, sem dizer de onde vêm
os recursos.
Todo mundo de boa-fé reconhece que Jair
Bolsonaro e sua trupe deixaram o governo em frangalhos e leva tempo botar as
coisas em ordem. Mas, como a situação é realmente feia, isso cria ansiedade e
sensação de urgência. O relógio corre.
Um pequeno exemplo de gastos
bem-intencionados, mas que precisam ser bem avaliados, é o projeto do
Ministério da Saúde de um hospital na área Yanomami. Parece uma boa ideia, mas
significa alto investimento e o transporte de 30 toneladas de materiais,
equipamentos e equipes, por helicópteros da FAB. Tem de saber da viabilidade e
da disponibilidade.
Em encontro hoje com a ministra da Saúde,
Nísia Trindade, o ministro da Defesa, José Múcio, vai argumentar que é mais
conveniente e eficaz manter um posto na reserva e a transferência dos indígenas
que precisarem de tratamento mais avançado para hospitais da capital de
Roraima. É menos invasivo para a reserva e mais eficiente para os pacientes. E
mais de acordo com a frota da FAB.
É em meio a esse debate sobre gastos sociais justos e necessários e uma crise fiscal de bom tamanho que Haddad faz suspense e um tantinho de teatro sobre a nova âncora fiscal. Reúne-se com a área econômica, alia-se a Simone Tebet e a Geraldo Alckmin e vai “submeter a Lula”, antes de um anúncio triunfal. Até agora, porém, tudo o que o distinto público sabe é que será... criativa. Ai, que medo!
Um comentário:
Eliane Catanhêde.
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