quarta-feira, 28 de junho de 2023

Bernardo Mello Franco - O Coronel e o capitão

O Globo

Covardia de Jean Lawand Junior combina com novo tom de Bolsonaro diante da Justiça

O coronel Jean Lawand Junior é um bolsonarista típico. Fala grosso na internet, mas afina na hora de assumir seus atos. Depois da derrota do capitão, o oficial se esgoelou no WhatsApp em defesa do golpe. Ontem ele tentou se fazer de inocente na CPI.

O militar passou ao menos um mês incentivando uma quartelada. Em mensagens enviadas ao tenente-coronel Mauro Cid, pregou uma ação militar para subverter o resultado das urnas. Queria que Jair Bolsonaro desse “a ordem” para botar os tanques na rua.

“Ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida”, suplicou. Em outro diálogo, o coronel disse que o presidente precisava escolher entre a ruptura institucional e a cadeia. “Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso”, insistiu.

A conspiração está documentada em relatório enviado pela Polícia Federal ao Supremo. Mesmo assim, Lawand resolveu contar uma história da carochinha à CPI. Sem corar, ele alegou que “a ordem” não passaria de um chamado à pacificação nacional. “Minha intenção não era o golpe. Era realmente apaziguar o país”, disse.

A conversa não satisfez nem a tropa oposicionista. “Mais inteligente seria ter usado o direito de permanecer em silêncio”, lamentou o senador Marcos Rogério. “Eu também não estou convencido das suas explicações, com todo o respeito”, escusou-se o ex-juiz Sergio Moro.

A relatora Eliziane Gama afirmou que o depoente tratou os parlamentares como crianças. Apesar do desrespeito à CPI, ninguém ousou dar voz de prisão ao oficial. O coronel foi salvo pela farda — mesmo tendo ido ao Congresso em trajes civis.

A covardia de Lawand combina com o novo tom de Bolsonaro. Ameaçado de perder os direitos políticos, o ex-presidente voltou a se fingir de democrata. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele jurou que nunca quis usar a força para se perpetuar no poder. E disse que o 8 de janeiro teria sido coisa de “senhorinhas com a Bíblia embaixo do braço” e “senhorzinhos com a bandeira do Brasil”.

O discurso do capitão é tão mentiroso quanto o do coronel. Mas o TSE não deve amarelar como a CPI.

 

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