Folha de S. Paulo
IBGE mostra ritmo pequeno de aumento da
população; Brasil vai precisar de mais imigrantes
O Brasil passa por um período de
crescimento chinês. Quer dizer, o ritmo de aumento da população dos dois países
foi parecido na última dúzia de anos, na casa dos 6%. A China, como se
sabe, teve uma política muito dura de controle dos nascimentos. A população
brasileira estaria crescendo pouco? Pouco por qual critério?
Antes de prosseguir, relembre-se que a taxa
de crescimento calculada pelo Censo de 2022 causou
surpresa. A
população recenseada é de cerca de 203 milhões, 11 milhões menor do que aquela
de projeções ou estimativas da Pnad, do IBGE. Por essas contas a população
vinha crescendo a um ritmo anual na casa de 0,8% ao ano; pelo Censo, a pouco
mais de 0,5%.
A diferença causa um certo furdunço, ainda pouco informado, pois faltam detalhes do Censo para se pensar o que houve. Pode bem ser que a calibragem das pesquisas do IBGE estivesse meio torta por falta de uma contagem de população de meio de década, para o que não houve dinheiro.
Uma instituição de estado central vai sendo
sucateada. O governo federal gasta R$ 2 trilhões por ano, mas falta para
o IBGE (não
se está falando do atual governo). É uma vergonha e uma burrice.
Isto posto, é melhor acreditar no Censo do
que em estimativas.
A população do Brasil cresce pouco? A
comparação internacional é difícil. Considerem-se, por exemplo, o crescimento
da dúzia de anos de 2009 a 2021 ou de 2007 a 2019, segundo as bases de dados do
Banco Mundial.
Na Europa, há o grupo dos países com
crescimento baixo e cadente, menos de 2% no período, como Alemanha, Itália,
tendendo a zero, ou Portugal e Grécia, negativos. Mas, na França, a população
cresceu perto de 5%. No Reino Unido, perto de 9%. Nas felizes Dinamarca e
Holanda, em torno de 6%. Nos países da OCDE, perto de 7,5%.
A população dos Estados Unidos cresceu 9%.
No México e no Chile, em torno de 15%.
Esses dados têm de ser tomados com um grão
de sal e outro de calmante. São estimativas, em parte feitas no morticínio da
epidemia. Podem ter desvios também. Ainda assim, dá para perceber a disparidade
demográfica entre países semelhantes em termos socioeconômicos. Migração e
crises econômicas ajudam a entender apenas um pouco das diferenças.
Um problema do crescimento populacional
baixo em uma economia de renda média (e descendo) como a do Brasil é o
envelhecimento precoce. Em breve, podemos ter pouca gente trabalhando em
relação ao número de dependentes (soma de crianças e aposentados, grosso modo).
Já era previsível que o Brasil precisaria
de uma política de atração de imigrantes —vide a falta de mão de obra qualificada
quando o país crescia. Agora, deve se tornar um assunto crítico.
O que causou essa desaceleração do
crescimento brasileiro? A gente nem sabe ainda como ficou a população por faixa
de idade, para começar.
O colapso econômico dos anos 2010 e a
epidemia derrubaram os números? Feita a conta por períodos de dúzias de anos, o
Brasil já teve colapsos piores, como nos anos 1990. Nesta crise, uma geração
teria perdido a esperança no país e/ou de ter filhos?
Que mudança cultural ou social houve quanto
à família? Na atitude das mulheres? Emigração enfim maior do que imigração pode
ter tido algum efeito? Seria pequeno, a julgar pelo histórico do país.
O fato maior é que nos conhecemos pouco. Os
números do Censo devem até mudar o entendimento que temos do universo do
trabalho e das andanças da economia brasileira. Qual a proporção dos que têm
trabalho ou procuram emprego, por exemplo?
O número de moradores por domicílio caiu
brutalmente de uma década para outra (3,3 para 2,7). O que isso diz sobre
moradia, cidades, família, programas sociais? Quantas crianças vão precisar de
escola e professores?
Não sabemos bem de nada disso.
Um comentário:
Minha cidade diminuiu o número de habitantes.
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