Folha de S. Paulo
Ministro mostrou habilidade em negociações,
mas verá mais resistências no Congresso
Pouca gente cantou vitórias nos primeiros
meses de governo como Fernando
Haddad. Com a bênção de Lula,
o ministro tomou controle da agenda econômica, cortou intermediários e negociou
com o Congresso o avanço de sua plataforma. As águas no segundo semestre talvez
não sejam tão tranquilas.
O arcabouço fiscal e a reforma tributária navegaram com velocidade porque convergiam com interesses dos parlamentares. Não é que o ministro não tenha sido hábil nas articulações para aprovar as propostas, mas os congressistas também queriam mostrar serviço na área.
A boa vontade pode não ser a mesma nas próximas
etapas. A agenda de Haddad depende de medidas que forcem um aumento rápido na
arrecadação de impostos e facilitem sua promessa de fechar o buraco nas contas
do governo. Políticos à direita e à esquerda torcem o nariz para uma parte ou
outra da equação.
Um sinal foi emitido no meio do recesso
parlamentar por Arthur Lira, líder de fato do centrão. O presidente da Câmara
disse que as propostas de Haddad para mudar regras
de taxação de renda e de investimentos dos super-ricos é "um
risco grande".
Um componente ideológico explica parte da
resistência. O centrão identifica as propostas como itens de uma agenda de
esquerda, e nenhum cargo no governo deve eliminar a vocação de direita desses
parlamentares na pauta econômica.
O resto é política. O centrão apoiou em
massa a reforma tributária sabendo que a proposta envolve uma transição longa,
mas nem todo o grupo está disposto a entregar os resultados imediatos de um
aumento de arrecadação. Seria mais proveitoso, segundo a lógica, negociar em
etapas o fôlego concedido ao governo.
Outras desconfianças estão dentro de casa.
Uma ala do PT rejeita a ideia de zerar o déficit nas contas em 2024 porque a
medida limita a ferramenta preferida do grupo para estimular a economia, que
são os gastos do governo. O temor é que a dificuldade para aumentar receitas
leve a Fazenda a apertar as despesas.
Um comentário:
Pois é.
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