Correio Braziliense
A oposição de extrema direita está sendo
isolada, com o ex-presidente Jair Bolsonaro fora da disputa eleitoral de 2026.
Lula tenta evitar o surgimento de uma oposição de centro-direita robusta
Um velho jargão da política diz que um bom
acordo, para ser duradouro, precisa ser ruim para todos os envolvidos, mas não
tanto que possa ser rompido. No caso da reforma ministerial à vista, porém,
precisa ser bom o suficiente para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva formar
uma maioria absoluta na Câmara, ou seja, garantir ao menos o apoio de 257
deputados, o quórum mínimo para aprovação de leis ordinárias. A aprovação de
emendas constitucionais, por quórum qualificado, ou seja, por mais de três
quintos dos deputados, exige o apoio de 308 deputados. Dificilmente a reforma
chegará a isso.
Por essa razão, a decisão de incorporar o PP e o Republicanos ao governo Lula pressupõe saber se realmente esses partidos entregarão os votos de suas bancadas na Câmara, que foram eleitas majoritariamente na base eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro. Não se trata apenas da lealdade dos novos ministros, mas da sua capacidade de amarrar os votos de suas legendas. Essa questão está posta principalmente por causa do União Brasil, cuja bancada majoritariamente votava contra o governo, porque não se sentia representada pela deputada Daniela Carneiro (RJ) no Ministério do Turismo.
Daniela havia sido indicada pelo
ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP), juntamente com Juscelino
Filho (MA), para o Ministério das Comunicações, e Waldez Góes (PDT), seu aliado
na política do Amapá, para o Ministério do Desenvolvimento Regional e da
Integração. Daniela foi substituída por Celso Sabino (União-PA), mas nada
assegura que o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), e na Câmara,
Elmar Nascimento (BA), garantam um apoio monolítico de suas bancadas. O
presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), já disse que não fará parte da
base, mas também não fará oposição sistemática. É uma relação, no mínimo,
pastosa do União Brasil com o governo Lula.
Se olharmos para as grandes votações na
Câmara, veremos que as vitórias do governo foram expressivas quando houve
convergência de agendas entre a equipe econômica de Lula e a maioria
conservadora da Câmara, liderada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Na votação do arcabouço fiscal, o Palácio do Planalto teve apoio de 88% da
bancada do União Brasil (50 sim x 7 não), 87% dos Republicanos (34 sim x 5 não)
e 85% do PP (39 sim x 7 não). No caso da reforma tributária, o apoio do União
Brasil caiu para 81% (48 sim x 11 não), o do Republicanos subiu para 88% (36
sim x e não) e do PP baixou para 82% (40 sim x 9 não).
O problema é quando a agenda é de interesse
exclusivo do governo, que precisa da solidariedade do Legislativo. Na
reestruturação ministerial, o apoio do União Brasil caiu para 59% (35 sim x 15
não), do Republicanos para 74% (31 sim x 7 não) e do PP para 69% (34 sim x 9
não). A grande incógnita é exatamente essa: qual será o posicionamento do
Centrão quando entrar em jogo a agenda social do governo e a questão dos
direitos humanos? Esse é o xadrez que o presidente Lula está jogando.
Setores liberais
As mexidas na Esplanada dos Ministérios têm
como pano de fundo essa questão. Em princípio, os ministros indicados são
aliados de Lula, que o apoiaram nas eleições passadas: Silvio Costa Filho
(Republicanos-PE) é aliado histórico do PT, como seu pai, que, inclusive, o
visitou na cadeia, em Curitiba (PR). Como se sabe, quem foi solidário com Lula
na hora mais difícil está sendo muito bem tratado pelo presidente da República.
André Fufuca (PP-MA), um anfíbio, é aliado de Arthur Lira e do ministro da Justiça,
Flávio Dino (PSB). Muito jovens, ambos dependerão dos caciques de suas legendas
para garantir os votos de suas bancadas, além do apoio de Lira.
Uma outra questão é a mudança no caráter do
governo Lula, que não tem um programa que unifique a ampla frente democrática
que garantiu sua vitória no segundo turno. O programa está na cabeça de Lula e
tem como base a velha agenda de seus mandatos passados, o que descontenta
setores liberais que o apoiaram no segundo turno. A fraqueza desses setores no
Congresso será compensada, sim, pelo ingresso dos setores conservadores no
governo, mas isso significará o bloqueio da agenda da renovação da política e
dos costumes.
A composição do Congresso representa o
resultado das eleições de 2022, é a realidade nua e crua; essa aliança à
direita, porém, pode se descolar da real correlação de forças na sociedade,
favorecendo o sentimento antissistema.
A oposição de extrema direita está sendo isolada, com o ex-presidente Jair
Bolsonaro fora da disputa eleitoral de 2026. Lula tenta evitar o surgimento de
uma oposição de centro-direita robusta. Para isso, precisa esvaziar as
pretensões dos setores democráticos que ficaram órfãos da terceira via de
anteciparem a disputa de 2026, o que dependerá do bom desempenho da economia.
A forma como pretende articular o novo
conjunto de forças que integram o governo dependerá agora de quem sairá dos
ministérios. Se a opção de Lula for sacrificar o PT e ministros de sua cota
pessoal, compensando-os com outros espaços no governo, é um desenho que
favorece a aliança com os setores liberais; se os defenestrados forem os
ministros de centro, está consolidada uma coalizão que aposta na continuidade
da radicalização política e na cooptação dos setores conservadores com cargos e
verbas, apenas, o que é um risco em caso de uma crise econômica provocada por
fatores externos, com a alta da inflação em razão da guerra na Ucrânia.
2 comentários:
■O governo Bolsonaro era o de um populista governando com o pior do que há à direita, e com alguns que se salvavam;
■Este governo Lula3 caminha para ser o de um populista governando com o pior do que há à esquerda somado ao que há de pior à direita, e com alguns que se salvam.
▪Sinto muito! Eu gostaria de poder pensar alguma coisa melhor.
Valeu!
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