O Globo
Sinto que a nova tecnologia serve muito
mais à aproximação do cérebro às máquinas, em vez de considerá-la uma vitória
das máquinas sobre o cérebro
A onda levantada hoje contra a inteligência
artificial (IA), por físicos, matemáticos e mais gente da mídia, não me parece
justa. O grande Noam Chomsky, por exemplo, chega a dizer que a IA representa
uma ameaça direta ao pensamento, à linguagem e ao próprio humanismo. Logo ele,
que nos tem ajudado tanto a compreender melhor nosso tempo, graças à linguagem
e à melhor compreensão do que os poderosos desejam de nós.
Não acho nada disso. Confesso que não
domino o sistema, mas dá para entender do que se trata, como pensar e se
comportar diante da novidade.
Como toda tecnologia, a IA tem uma abertura para o Mal, como tiveram centenas de outras invenções do homem para fazer de sua vida uma coisa mais leve e presumível. Mas só. É bobagem pensar que uma invenção humana exista só para destruir a Humanidade. De minha parte, sinto que a IA serve muito mais à aproximação do cérebro às máquinas, em vez de considerá-la uma vitória das máquinas sobre o cérebro.
A IA nasceu na verdade no século XVIII com
Thomas Bayes. Ele dizia que a mente humana atribuía probabilidades às ideias e
as modificava à luz da experiência. Podemos dizer então que a IA é exatamente
nosso instrumento de verificação da verdade e essa verdade surgirá soberana
depois desse confronto. De certo modo, estaremos valorizando o que vemos diante
de nós, o novo e único real. Arthur Clarke, com o roteiro do filme “Uma
odisseia no espaço”, dirigido por Stanley Kubrick, que ele escreveu em 1968,
previu essa distinção para o ano de 2001. O que é verdade para um indivíduo ou
para um grupo de indivíduos, não importa quando, não é necessariamente verdade
para outro.
Sabemos pouco sobre o cérebro e o
comportamento humano ditado por ele. Mas se temos certeza de nossa incerteza
podemos garantir que dificilmente um sistema inventado pelo ser humano poderá
reproduzir com perfeição o modo como ele funciona. Criaremos expectativas e
falaremos de possibilidades que, pelo menos por enquanto, nunca poderão ser
comprovadas.
A IA é uma forma avançada da cultura
digital, mas enquanto estiver sendo criada e desenvolvida pela mente humana
jamais poderá ser considerada mais importante e poderosa que nosso cérebro. O
ChatGPT é uma invenção nossa, do ser humano, e como tal não terá nunca um
padrão universal que determine sua infalibilidade.
Se nossa mente depende de informações,
regras e hábitos tão variáveis quanto os que já vivenciamos, imaginem se
seremos capazes de criar novas informações, regras e hábitos universais que se
tornem ciência.
Um comentário:
Muito bom o artigo.
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