Valor Econômico
No Brasil de Lula e Haddad, os sábios da
Crematística buscam a magnésia capaz de debelar os males dos déficits primários
Jornalistas de escol e economistas
qualificados pelos requisitos de mercado criticaram acerbamente as palavras do
presidente Lula. Lula declarou que guardava esperanças. Esperanças no emprego
do dinheiro público na consecução de obras de infraestrutura.
Antes de prolatar inconformismos com o debate contemporâneo a respeito do dinheiro, vamos tentar uma modesta, talvez necessária, caminhada.
Keynes e sua Economia Monetária da produção
reconhece o caráter “originário” da função medida de valor. Ela se realiza na
prática sob a forma de unidade de conta, “nome aritmético” da medida de valor.
É desta função que decorrem as demais, meio de circulação, meio de pagamento e
reserva de valor. A função de meio de circulação está diretamente associada à
unidade de conta. Essas duas funções executam de forma reiterada os ritos do
reconhecimento social que acompanham o processo de socialização dos indivíduos
privados, livres e separados: primeiro, denominar cada mercadoria particular no
dinheiro ideal, declarar sua pretensão em se transformar no dinheiro “real”
para depois submeter-se à aceitação dessa declaração pelo tribunal do mercado,
mediante a sua transformação efetiva na forma geral do valor.
Há que registrar aqui: ao acompanhar o avanço
da economia mercantil-monetário-capitalista, o “dinheiro real” despojou-se
progressivamente de sua roupagem material - ouro e a prata - e até mesmo papel.
Passou a repousar escriturado nos depósitos bancários. Hoje caminha célere para
a sua forma digital. Ouso afirmar, na esteira de Hegel, que o dinheiro realiza
o seu conceito de forma abstrata da riqueza. Faça um PIX.
A possibilidade de o dinheiro funcionar como
meio de pagamento significa também que o dinheiro pode funcionar
antecipadamente para financiar o futuro, riqueza a ser criada. O dinheiro não
aparece apenas no momento de realização do preço das mercadorias na circulação,
mas torna-se o “motor” do processo de circulação. O dinheiro “nasce” da
circulação e passa a ser seu pressuposto, sua condição de existência. Quando
passa a ser uma aposta sobre a riqueza futura, o dinheiro é pressuposto da
circulação.
Sob essa forma, o dinheiro é valor
substantivado. Enquanto forma universal da riqueza, abandona as casamatas do
presente, deixa de ser um intermediário das trocas já existentes e passa a ser
uma antecipação em relação à produção futura, riqueza potencial.
Aqui é conveniente alertar os terroristas dos
déficits: o gasto dos empresários, Estado, famílias e dos estrangeiros
determinam a circulação da renda monetária. Quando ouço ou leio as increpações
da mídia fico chocado com a condenação inquisitorial do gasto.
No auge da Grande Depressão dos anos 30 do
século passado, Keynes enviou um carta aos assessores do presidente Franklin
Delano Roosevelt. Transcrevo o trecho mais significativo:
“A despesa é uma transação bilateral. Se eu
gastar minha renda para comprar algo que você pode fazer para mim, eu não
aumentei minha própria renda, mas eu aumentei a sua. Se você responder
comprando algo que eu posso fazer para você, então minha renda também é
aumentada. Assim, quando estamos a pensar na nação como um todo, devemos ter em
conta os resultados como um todo. O resto da Comunidade é enriquecido pela
despesa de um indivíduo. Sua despesa é simplesmente uma adição à renda de todos
os outros. Se todo mundo gasta mais livremente, todo mundo é mais rico e
ninguém é mais pobre. Cada homem beneficia-se da despesa de seu vizinho, e as
rendas são aumentadas apenas na quantidade exigida para fornecer os meios para
a despesa adicional.
Há apenas um limite para que o rendimento de
uma nação possa ser aumentado desta forma: o limite fixado pela capacidade
física de produzir. Abster-se de gastos em um momento de depressão, não só
falha, do ponto de vista nacional, mas significa desperdício de homens
disponíveis, e desperdício de máquinas disponíveis, para não falar da miséria
humana da qual somos responsáveis”.
O desempenho da economia monetária depende
das complexas relações entre a criação monetária por instituições privadas de
avaliação do crédito e a capacidade do Estado, gestor da moeda, em orientar o
comportamento e as expectativas dos agentes privados empenhados na liça da
acumulação de riqueza monetária.
Esses trabalhos do Estado são executados pela
política monetária do Banco Central em conjunto com a gestão da dívida pública
pelo Tesouro.
No capítulo XII da Teoria Geral, Keynes
desabafa: “O desemprego prospera porque os homens querem a lua; os homens não
podem conseguir emprego quando o objeto dos seus desejos (ou seja, o dinheiro)
é algo que não se está a produzir e cuja demanda não pode ser facilmente
contida. O único remédio consiste em persuadir o público de que lua e queijo
são praticamente a mesma coisa, e a fazer funcionar uma fábrica de queijo sob a
direção do poder público”.
Keynes foi um tanto otimista ao imaginar a
capacidade de persuasão dos governos.
Na crônica de 8 de março publicada em A
Semana, no ano da graça de 1896, Machado contava que “um economista apareceu
lastimando a sucessiva queda do câmbio e acusando por ela o ministro da
Fazenda. O grande escritor logo se indispõe com o câmbio, “inimigo sorrateiro e
calado, já está em oito e tanto e ninguém sabe onde parará; é capaz de nem
parar em zero e descer abaixo dele uns oito graus ou nove... O mal do câmbio
parece-se um pouco com o da febre amarela, mas para a febre amarela, a magnésia
fluida de Murray, que até agora só curava dor de cabeça e indigestões, é
específico provado neste verão, segundo leio em placa de ferro. Que magnésia há
contra o câmbio?”
No Brasil de Lula e Haddad, os sábios da
Crematística buscam a magnésia capaz de debelar os males dos déficits
primários. Tudo indica que recomendam o composto “Joaquim Levy”. A panaceia de
Levy fez a economia brasileira desabar 3,8% em 2015 e 3,3% em 2016. Não espanta
que o encolhimento do circuito de formação da renda tenha provocado a derrocada
da arrecadação pública. O déficit primário de 0,63% do PIB em 2014 - o primeiro
em duas décadas - avançou para 1,88% em 2015 e 2,47% em 2016.
*Luiz Gonzaga Belluzzo é professor emérito do
Instituto de Economia da Unicamp e da Universidade Federal de Goiás.
3 comentários:
Difícil e necessário.
■Joaquin Levy foi uma poção de remédio tentada pelo PT/Dilma/Lula após aparecerem as consequências gravíssimas dos desequilíbrios que foram sendo estabelecidos por "políticas econômicas keinesianas" desastradas implantadas por Lula principalmente a partir de seu 2° mandato e aprofundadas por Dilma.
Um dos inspiradores, deveras o principal inspirador, das "políticas keynesianas" implantadas pelo PT a partir do 2° mandato de Lula foi.... Luiz Gonzaga Belluzzo.
Deu no que deu::
▪Deu em gravíssima recessão econômica, a maior recessão que a história da nossa economia conhece.
Já em 2013 os desequilíbrios econômicos eram sentidos com muita gravidade pela classe média brasileira e deixou o Brasil conflagrado, parado por manifestações diárias por vários meses e que em cada cidade chegava a mobilizar milhões de brasileiros.
▪Nunca havia acontecido manifestações assim no Brasil!
●A situação fiscal que resultou dos anos PT foi tão grave que o dinheiro para pagamento do Programa Bolsa Família teve que ser sacado a descoberto na CAIXA ECONÔMICA em alguns meses de 2014;
●No Orçamento feito pelo PT em 2014 para ser aplicado em 2015 foram RETIRADOS $15Bilhões da Saúde em relação ao Orçamento aplicado em 2014.
O motivo de sacar a descoberto na CAIXA para pagar o programa contra a fome e para retirar tanto dinheiro da saúde?
▪A crise havia ACABADO com o dinheiro.
JOAQUIN LEVY
▪O economista Joaquim Levy só chegou a Brasília como Ministro da Fazenda em...2015.
Repetindo::
O Ministro Joaquin Levy SÓ CHEGOU a Brasília como Ministro da Fazenda no ano de 2.0.1.5 !
Portanto, Joaquin Levy foi chamado para ser Ministro em uma tentativa do PT de consertar as MERDAS na economia que havia feito sob a inspiração dita keynesianas de, principalmente... Luiz Gonzaga Belluzzo!
Vão repetir as MERDAS ECONÔMICAS?
E vão repetir as asneiras ditas keynesianas inspiradas novamente exatamente pelo Luiz Gonzaga Belluzzo?
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