sábado, 13 de janeiro de 2024

Carlos Alberto Sardenberg - Muita conversa para pouca ação

O Globo

Pelo jeito, demorará para o governo federal ir para cima da milícia e do narcotráfico. A Polícia Civil do Rio tentou

Com a devida licença poética, foi mais ou menos assim.

Do prefeito do Rio para o ministro interino da Justiça, no X (Twitter):

— Tem bandido cobrando 500 mil de empreiteira que toca obra pública.

Ministro, também no X:

— Tô sabendo. Seu colega de Nova Iguaçu também alertou. Vamo pra cima.

Não foram. Ficaram ocupados consigo mesmos, com as trocas no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O então ministro interino, Ricardo Cappelli, continua secretário executivo da pasta, mas entrou em férias, depois deixará o cargo. Também se dá como certo que o atual secretário de Segurança Pública, Francisco Tadeu Barbosa de Alencar, será substituído, provavelmente por Benedito Mariano, quadro do PT que participou da transição nas questões de segurança.

As propostas da transição não foram aproveitadas na gestão do ministro Flávio Dino. A julgar pelos resultados, nenhuma outra proposta foi aproveitada, nem sequer formulada no detalhe. Agora, confirmadas as mudanças, Mariano deverá imprimir “nova política”.

Pelo jeito, demorará para o governo federal ir para cima da milícia e do narcotráfico. A Polícia Civil do Rio tentou. Descobriu o nome do bandido que cobrou os R$ 500 mil da empreiteira que toca a obra do Parque da Piedade. Trata-se de Jean Carlos Nascimento dos Santos, o Jean do 18. O Ministério Público apresentou denúncia por extorsão, a polícia foi atrás do sujeito. Não encontrou.

Nada, portanto. Para prender Jean do 18, não era preciso denúncia alguma. Ele está condenado a 66 anos de prisão, é réu em 20 crimes, incluindo homicídios, foi preso em 2017, mas fugiu no começo do ano passado. E voltou às atividades.

O tuíte do prefeito Eduardo Paes trouxe à tona toda essa história. Com mais detalhes. Tinha ocorrido, em novembro passado, uma reunião de Dino e Cappelli com empreiteiros do Rio, que reclamaram justamente das extorsões. Todo mundo que deveria saber, portanto, estava sabendo. Vai ver foi por isso que o prefeito do Rio recorreu ao X. Boca no trombone.

Agora, todos sabemos — nada foi feito, nem ao menos se tem a tal política nacional de segurança. Parece mais fácil formular do que colocar para funcionar o que já existe. Em todas as áreas.

Um ano depois de iniciada a gestão Lula e depois de o presidente ter ido a Roraima para denunciar a tragédia do povo ianomâmi com a titular da nova pasta dos Povos IndígenasSonia Guajajara, a situação dos ianomâmis continua uma tragédia.

Repórteres e fotógrafos que foram até lá há uma semana encontraram crianças desnutridas com os ossos à mostra. Explosão de casos de malária e virose. Centenas de mortes. Rios poluídos tomados pela lama. O garimpo ilegal, que nunca saiu totalmente, de volta com força no interior da Floresta Amazônica — como descrevem reportagens e declarações de lideranças locais.

Em janeiro de 2023, Lula decretou emergência de saúde pública. Neste mês, revelada a tragédia persistente, fez uma reunião com vários ministros e decretou questão de Estado. A Casa Civil anunciou que tomará “ações estruturantes”.

De novo, não seria mais eficiente levar comida e remédios para lá? Há 27 mil indígenas na Terra Yanomami. Não pode ser tão difícil entregar lá comida e remédios. Em janeiro do ano passado, a ministra Sonia Guajajara dizia exatamente isso, que a ação imediata seria levar suprimentos. Combater o garimpo ilegal, um tipo de crime organizado, e tocar o saneamento de rios e matas é mais difícil, claro. Mas levar alimentos?

O governo diz que o desastre foi causado pela gestão Bolsonaro — é verdade — e que conseguiu alguns resultados, como redução no número de mortos. Não foi o que os jornalistas encontraram. Não é o que dizem lideranças indígenas. Além disso, até quando continuarão culpando o governo anterior?

A ministra Sonia Guajajara orgulha-se de ter levado cem indígenas brasileiros em sua delegação para a COP28, em Dubai. Um marco histórico, como ela diz. Mas que vale isso diante da tragédia continuada dos ianomâmis?


4 comentários:

marcos disse...

É o PT:muita saliva e pouca ação.

Segurança? Em 2010 Lula e Dilmá atacaram Serra e Índio dizendo que as nações traficantes eram amigas. Em 2014 repetiram a dose. Resultado? 60 mil mortos por ano. São cínicos. O PT é Farsante Da Política, aliado da Russia e do Irã.

MAM

marcos disse...

Solução? Voto distrital simples, "recall" e referendo. Fim da PM e do CB,valhacoutos da Milícia. Policia civil, técnica, profissional,municipal e sem estabilidade. Eleição de juiz e procurador. Pressão total sobre as nações traficantes.

MAM

Anônimo disse...

SEGURANÇA É PROBLEMA DE TODOS

■■■A insegurança no Brasil está a cada dia se agravando.

Penso que a questão da segurança é um caso tão limite que todas as forças políticas deveriam elaborar JUNTAS um programa completo e longo de combate à violência e a todo tipo de delinquência que vem se organizando e se fortalecendo, da delinquência de usar motos para fazer barulho ao roubo de celular; da delinquência de interceptação de roubo à venda de drogas; dos crimes de milícias aos crimes de corrupção com dinheiro público.

Segurança é, de todos, o problema limite para o funcionamento da sociedade.
■Um programa de combate único à insegurança e à violência deveria ser formulado em conjunto por todas as forças políticas, PT, PL, PMDB, PP, Republicanos, PSDB...

Um programa elaborado coletivamente afastaria a disputa, o boicote e o abandono do programa a cada sucessão por forças diferentes. E sendo um projeto comum, facilitaria o envolvimento das cidades e Estados no mesmo programa federal.

Anônimo disse...

■■Mas, sinceramente, eu não acredito que com o Governo Federal sendo liderado por um presidente da República que é absolutamente rejeitado ou sofre restrição forte de mais da metade da população por ser miliciano ou por ser corrupto terá autoridade para implementar um plano de segurança elaborado em conjunto.