O Estado de S. Paulo
No último domingo, esta Coluna observou como
as projeções econômicas feitas no início de 2023 para todo o ano deram errado.
As apostas de analistas e consultores ficaram longe do alvo. Como a dinâmica
dos fatos nem sempre coincide com as previsões dos entendidos, é melhor não se
apegar a números frios, mas tentar avaliar as tendências. Então, vamos lá.
Na área externa, a balança comercial tem tudo para continuar a dar show, especialmente pelo forte superávit da balança comercial (exportações menos importações) continuará alavancada pelo aumento das exportações de petróleo e de grãos, a despeito dos estragos de safras agrícolas que poderão ser provocadas pelo fenômeno El Niño.
Como continua sobrando muito dinheiro no
mercado global, resta saber se a entrada de Investimentos Diretos no País
seguirá a tendência de queda do último ano. Caso contrário, a consequência
imediata dessa equação, parece inevitável que o real continue a se valorizar –
fator que ajudará a derrubar a inflação, porque barateará os importados.
Inflação em queda deverá puxar para baixo
também os juros básicos (Selic) que o mercado vem avaliando para 9,00% no fim
do ano, mas que pode recuar algo mais, dependendo de como for o comportamento
da inflação nos próximos meses.
Outra área promissora continua sendo a queda
do desemprego, que caiu para 7,5% da força de trabalho no trimestre encerrado
em novembro. A principal hipótese para esse desempenho melhor parecer ser o
aumento do uso de tecnologia.
Agora, o que não vai bem. A lista começa com
a questão fiscal. 2024 será um ano eleitoral. Crescerá a coceira dos políticos
por mais gastança. Esta continua sendo a principal fonte de incertezas.
Desta vez, o cumprimento das previsões de
crescimento do PIB de apenas 1,5% parece mais provável porque a atividade
econômica já vem em desaceleração e o desempenho do agro pode não ser tão bom
quanto em 2023 pelo impacto das mudanças climáticas. Nada indica que a
indústria de transformação se recuperará do seu deslizamento morro abaixo. E o
consumo das famílias poderá continuar retraído porque o nível de endividamento
das famílias segue alto demais e compromete o orçamento doméstico.
O tombo da poupança interna e dos
investimentos em 2023 foi tão acentuado que é mais provável que se recuperem em
alguma coisa nos próximos 12 meses. Mas são fatores que continuarão altamente
insuficientes para o País que pretende crescer de forma sustentável a 3% ao
ano. O setor que pode salvar a pátria ainda é o avanço do potencial de geração
de energia limpa e renovável e a economia verde.
Outra fonte de incerteza é a economia global.
Os grandes bancos centrais continuam vacilando na derrubada dos juros porque a
inflação continua alta e, nos Estados Unidos, porque o despejo de mais moeda na
economia tenderá a acirrar a situação de pleno emprego.
Feliz ano novo.
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