O Estado de S. Paulo
Após declarações sobre Israel, resta a aliados do governo torcer para que chuva iniba manifestantes
Até mesmo aliados do presidente Lula admitem,
nos bastidores, que ele deu munição para adversários ao comparar o ataque de
Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram
exterminados. Em conversas reservadas, apoiadores de Lula calculam que o ato
convocado por Jair Bolsonaro para domingo, na Avenida Paulista, tem tudo para
reunir no mínimo 100 mil pessoas, incluindo agora uma legião de insatisfeitos
com declarações de Lula.
Como na política uma imagem vale mais do que mil palavras, a foto da manifestação pode mostrar que o ex-presidente não está tão isolado como parece. Alvejado por investigações da Polícia Federal que o jogam no centro da estratégia montada para dar um golpe no País, Bolsonaro convocou seus eleitores para dizer que sofre “implacável perseguição política”.
Ao prestar depoimento à PF amanhã, porém, o
ex-presidente seguirá a orientação de advogados para ficar em silêncio. Sua
equipe jurídica também pediu que ele não xingue de “canalha” o ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do caso.
No Congresso, o PL e as frentes evangélicas
da Câmara e do Senado aproveitam a “deixa” da crise diplomática para desgastar
ainda mais Lula. Hoje, um grupo de deputados da oposição vai protocolar um
pedido de impeachment do presidente. Sabe-se
que a iniciativa é um jogo de cena, mas, de
qualquer forma, expõe fraturas na base aliada do governo por ter a assinatura
de parlamentares de partidos que comandam ministérios.
Lula vai participar de reuniões, nesta
semana, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), e também com líderes das duas Casas. Quer acertar os
ponteiros da articulação política – que já vinham quase parando antes mesmo do
tiro no pé dado com suas declarações sobre Israel –, por causa do confronto
entre Lira e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
Mas, agora, o Centrão apresentará fatura mais
alta pelo apoio ao Planalto. Apesar de ser aliado do presidente, Pacheco também
cobrou dele um pedido de desculpas aos judeus.
Antes dessa crise, o prefeito Ricardo Nunes
(MDB) havia sido aconselhado a não ir ao ato em defesa de Bolsonaro, mas
decidiu ir. Nunes conta com o apoio do ex-presidente e diz não acreditar que o
gesto tenha impacto negativo sobre sua candidatura à reeleição.
Ao que tudo indica, a manifestação
pró-Bolsonaro servirá para mostrar que o bolsonarismo não está morto. Resta aos
aliados de Lula torcer para que uma chuva torrencial, daquelas de não deixar
pedra sobre pedra, caia sobre a capital paulista neste domingo.
Um comentário:
Chuva,rs.
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