Folha de S. Paulo
Novas leis, políticas inovadoras e ações da
sociedade civil trazem melhorias para as mulheres
Anualmente, quando março chega,
intensificam-se as conversas sobre a desigualdade de gênero, a trajetória na
busca pelos direitos femininos e os desafios que ainda enfrentamos. Sem dúvida,
trata-se de um debate importante, o qual também procuro abordar em minha
coluna. No entanto, considerando a natureza comemorativa deste período,
acredito que deveríamos refletir sobre os avanços já conquistados.
Nos últimos dez anos, observamos uma marcha lenta, porém constante, rumo à igualdade de gênero, segundo o relatório de retrospectiva do Banco Mundial. Desde os anos 70, países do mundo todo aprovaram mais de 2.000 reformas legislativas em prol da igualdade entre homens e mulheres.
Ainda há muito o que avançar. Legalmente, as
mulheres possuem cerca de três quartos dos direitos econômicos dos homens, com
quase 2,4 bilhões de mulheres em idade produtiva ainda sem igualdade de
oportunidades econômicas. A discriminação legal limita o acesso das mulheres a
participação em mercados, sendo as disparidades mais acentuadas na África subsaariana,
Oriente Médio e norte da África e Sul da Ásia. No entanto,
destacar os avanços é fundamental para reconhecer o trabalho árduo das mulheres
ao redor do mundo e o impacto positivo de políticas públicas e esforços
coletivos para superar essas barreiras.
Por exemplo, em Bangladesh,
há uma história de sucesso que ilustra bem o progresso. O país adotou uma
abordagem deliberada e coerente para alcançar prioridades de gênero, focando na
redução da taxa de fertilidade e no aumento da taxa de participação feminina no
mercado de trabalho. Como resultado, as mulheres passaram a poder fazer um
melhor planejamento das gravidezes, de modo a reduzir de 6,9 nascimentos por
mulher no início dos anos 1970 para 2,0 em 2020. Nesse período, a participação
feminina na força de trabalho aumentou quase dez pontos percentuais desde 2000.
Esses resultados foram alcançados por meio de uma colaboração entre o governo,
ONGs, instituições acadêmicas e parceiros de desenvolvimento, destacando o
poder das ações coordenadas e o compromisso de longo prazo.
Além disso, o empoderamento econômico das
mulheres recebeu um impulso significativo por meio da Iniciativa de
Financiamento para Mulheres Empreendedoras (We-Fi), que apoia mulheres
empreendedoras em países em desenvolvimento. Esse esforço global não só facilita
o acesso ao financiamento, mas também fornece recursos educacionais e uma rede
de apoio para ajudar as mulheres a estabelecer e expandir seus negócios.
Iniciativas como o We-Fi demonstram a importância de abordar as disparidades de
gênero no empreendedorismo e no acesso a recursos econômicos.
No campo da educação e
direitos legais, progressos notáveis foram feitos em vários países. A abolição
de leis discriminatórias e a implementação de políticas que promovem a
igualdade de gênero nas escolas contribuíram para aumentar a matrícula de
meninas no ensino médio e superior. Relatórios do Banco Mundial destacam que,
em muitos países, as meninas agora têm igualdade ou até superam os meninos em
termos de matrícula escolar, um indicador chave para o desenvolvimento futuro
da igualdade de gênero.
O Brasil também não ficou de fora da
tendência de melhorias, com a implementação de políticas eficazes e legislação
forte contra a violência baseada em gênero e de avanços na educação e saúde
maternas. A taxa de matrícula das mulheres no ensino médio (83,2%) supera a dos
homens (80,3%) e está alinhada a de países de renda média alta. As mulheres
representam 36,6% dos formandos em áreas de exatas, marcando progresso na
inclusão em campos majoritariamente masculinos. Na saúde, 99,1% dos partos
foram assistidos por profissionais capacitados em 2017, e a mortalidade materna
caiu para 60 por 100.000 nascidos vivos em 2017, abaixo da média da América
Latina, mas ainda atrás de economias desenvolvidas.
Essa jornada rumo à igualdade de gênero,
embora lenta, tem resultado em progresso e conquistas significativas. Através
de reformas legislativas, políticas públicas inovadoras e esforços globais como
os já citados, o mundo tem testemunhado melhorias tangíveis na vida das
mulheres. Contudo, os desafios remanescentes exigem um comprometimento renovado
de todos os setores da sociedade para garantir que cada mulher e cada menina
tenha a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
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