domingo, 10 de março de 2024

Eliane Cantanhêde - O voluntarismo de Lula

O Estado de S. Paulo

Lula fala e interfere onde não deve, cala sobre o que deve e despenca nas pesquisas

O presidente Lula parece ou finge não ver, mas as coisas estão desandando e as pesquisas já apontam para desaprovação maior do que aprovação nas próximas rodadas, com queda de popularidade nos diferentes segmentos. Fazer meia culpa não é e nunca foi o forte de Lula, mas cadê o decantado faro político, a perspicácia e o carisma de Lula? Está sempre sério, mal-humorado, com declarações recheadas de erros não só de comunicação, mas de informação e compreensão do mundo.

O que o Brasil ganha com Lula negando o óbvio, que Nicolás Maduro é ditador, a Venezuela está em frangalhos e os venezuelanos vivem no pior dos mundos? Impedida de disputar as eleições de julho por instituições viciadas, Maria Corina reclamou. Lula deu de ombros: “Eu não fiquei chorando quando não pude concorrer”. Após relativizar a democracia, agora avaliza a lisura das eleições convocadas por Maduro, enquanto se cala sobre Alexei Nalvany, assassinado por Vladimir Putin, e até sobre a dengue. Fala o que não deve e cala sobre o que deve.

Na economia, Lula também insiste em desdenhar do bom senso e da política econômica de Fernando Haddad, exercitando seu velho populismo e defendendo mais gastos, quando o principal problema é exatamente o equilíbrio fiscal. Haddad se esfalfa pela arrecadação, Lula só quer gastar. Sua base petista acha lindo, a realidade grita. Isso não vai melhorar sua popularidade.

As intervenções políticas e voluntariosas na Petrobras e na Vale custam caro e Lula tem de engolir que no seu primeiro ano de governo, o lucro das duas principais empresas do País despencou em relação ao do último ano de Jair Bolsonaro e a pauta econômica e ambiental do governo está parada, com o Congresso digladiando com o Executivo por emendas e com o Judiciário em temas de costume. E a articulação política do governo?

Não é “má vontade” da mídia, quem derruba manchetes positivas por negativas é o próprio Lula. Em vez de “Brasil condena massacre de palestinos”, “Lula compara ação de Israel a Holocausto”. Em vez de “Brasil lidera pressão por democracia na Venezuela”, “Lula relativiza democracia”, ou “Lula avaliza ditadura de Maduro”. Em vez de “Lucro e ações da Petrobras e da Vale disparam”, “Lucro da Petrobras cai 33%”. Em vez de “Lula cobra controle das contas públicas”, “Lula exige mais gasto”.

As pesquisas Quaest e Ipec apontam que a popularidade de Lula caiu entre os que já eram contra, como os evangélicos, e os que eram a favor, como as mulheres. Logo, logo, as curvas acabam cruzando, com aprovação menor do que desaprovação. Será que, assim, Lula vai entender que as coisas estão desandando?

 

3 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Até parece que alguém vai dizer aquilo que a gente quer,nunquinha,rs.

ADEMAR AMANCIO disse...

Relativizar a democracia é o único erro imperdoável de Lula.

marcos disse...

AA, quais são os erros perdoáveis? MAM