Folha de S. Paulo
Faltam eficiência e respeito à dignidade das
pessoas nas ações do Estado
Dignidade foi uma das palavras mais ouvidas
no recente seminário "População em situação de rua", no auditório da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Entre diagnósticos, denúncias e propostas de políticas, o que uniu os participantes foi a constatação de que eficiência e respeito à dignidade das pessoas têm sido o bem mais escasso nas sucessivas tentativas de lidar com um problema tão descurado pelos governos municipais e estaduais. Uns e outros, com frequência, os reduzem a uma questão de polícia —o controle do tráfico e do consumo de substâncias ilícitas— ou de zeladoria urbana —a limpeza matinal de praças e ruas que servem de desabrigo aos sem-teto.
Este o primeiro erro: simplificar o que é
complexo por qualquer lado que se o focalize. Para a rua convergem pessoas
levadas por amplo rol de tragédias, agravadas pela proximidade da pobreza
extrema: perda de emprego ou trabalho ultraprecário, ruptura de laços
familiares, uso de drogas, doenças, problemas psicológicos graves ou distúrbios
mentais. Para a simplificação contribui a inexistência de um censo dessa
população que a descreva em detalhe. A lacuna permite que se substitua
conhecimento por estereótipos assentados em preconceitos.
O segundo erro decorre do primeiro. Não
existe bala de prata para lidar com problemas complexos. Há muitas dimensões a
considerar —e a assistência social, embora insubstituível, está longe de ser a
única. São igualmente importantes programas de moradia, saúde, educação,
trabalho e renda, destinados a segmentos específicos desse contingente. A
multiplicidade de instrumentos requer dos governos municipais e estaduais
capacidade de coordenação, atributo raramente encontrado no setor público.
O terceiro equívoco são as mudanças abruptas
de orientação a cada troca de governo: produzem instabilidade institucional,
descontinuidades de todo tipo, dificuldade de acumular experiências e aprender
com elas, ruptura de vínculos de confiança particularmente importantes quando
os beneficiários são pessoas que perderam ou estão por perder suas raízes.
Difícil acreditar que iniciativas para
população de rua possam se firmar se não virarem políticas de Estado, capazes
de sobreviver a mudanças das coalizões governantes, a exemplo de Bolsa Familia,
SUS ou Fundef.
Essa transformação sempre requer programas
bem concebidos e comunidades de especialistas que os defendam e logrem dar-lhes
legitimidade social. Em suma, que sejam capazes de mostrar que a indignidade a
que está condenada nossa população de rua torna menos dignos os que com ela
convivemos.
Um comentário:
Muito triste morar na rua,o alcoolismo geralmente é a causa,adoraria viver num planeta onde não tivesse bebida de álcool,drogas ilícitas e tarja preta.
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