sexta-feira, 21 de junho de 2024

Vinicius Torres Freire - Onde está o imposto que Lula quer tirar de ricos para dar a pobres

Folha de S. Paulo

Presidente descobre valor brutal da isenção de tributos, que cresceram nos anos petistas

Ministros disseram que Luiz Inácio Lula da Silva ficou "mal impressionado" ao saber na segunda-feira do tanto de imposto que se deixa de pagar no país, os de repente famosos "gastos tributários", isenções de tributos para cidadãos, empresas e outras instituições.

Na previsão da Receita Federal, o valor do gasto tributário neste ano deve ser de R$ 524 bilhões. É o equivalente a mais de um quinto da arrecadação bruta do governo federal e a 4,59% do PIB.

É brutal. Durante a campanha e na elaboração do programa de governo, em 2022, ninguém havia relembrado a Lula o tamanho do problema? Até aqui, quando discutia imposto com ministros, não se tratava do assunto?

Nesta semana, o presidente disse que há "muita isenção, muita desoneração, muito benefício fiscal". Contou que discute corte de R$ 15 bilhões com ministros "e daí descobre" que tem R$ 640 bilhões em benefícios para os ricos" (esse valor inclui outros subsídios além dos tributários).

Reclamou mais: "...desoneração de folha de pagamento, isenção fiscal, ou seja, são os ricos que se apoderam de uma parte do Orçamento do país. E eles se queixam daquilo que você está gastando com o povo pobre".

Lula tem razão. Mas onde estava quando governo e Congresso, com a colaboração intersticial da Justiça, aumentaram o gasto tributário de 1,7% do PIB em 2003, início de Lula 1, para 2,3% do PIB em 2007 (início de Lula 2), para 3,4% do PIB em 2010 (fim de Lula 2)? Para 4,8% em 2014, final de Dilma 1, afilhada de Lula?

Vale relembrar a composição dessa renúncia de impostos.

Do total, 24% são isenções do Simples (R$ 125 bilhões), sistema criado para facilitar a vida de pequenas e médias empresas. Atualmente, serve também para aliviar o imposto de profissionais liberais ricos e de muito pejotizado. O gasto tributário cresceu 2,3 pontos do PIB de 2007 a 2024. Desse aumento, 0,6 ponto foi para o Simples.

O segundo maior gasto vai para "Agricultura e Agroindústria", 11,3% do total. São R$ 59 bilhões, dos quais R$ 39 bilhões vão para a desoneração da cesta básica (que em parte acaba no bolso de ricos) e R$ 6,3 bilhões vão para defensivos agrícolas.

Juntando os gastos tributários devidos a isenções e deduções do IR da Pessoa Física, temos mais de R$ 84 bilhões, 16% do total. Disso, mais de R$ 33 bilhões subsidiam os gastos com escola e saúde privadas. Quase R$ 39 bilhões vão para aposentados com mais de 65 anos, com doença grave etc.

O mais vai para indenização por demissão de trabalhador, seguro por morte ou invalidez. Nem tudo é para "rico", embora os mais pobres não entrem aí.

Lula vai mexer nisso? Não vai mexer com estados e empresas da Zona Franca de Manaus, com R$ 39 bilhões de isenção e uma máquina de produzir ineficiência econômica, e com os R$ 42 bilhões para filantrópicas.

A alta do valor das isenções de Simples, IR, agricultura e agroindústria e desenvolvimento regional equivale a dois terços do aumento total do gasto tributário de 2007 a 2024.

O grande aumento ocorreu DURANTE os anos petistas, mas não necessariamente POR CAUSA de Lula e Dilma, embora a ex-presidente fosse entusiasta desse tipo de ideia e Lula a estimule até hoje (na indústria, por exemplo).

Como se disse mais acima, isso resulta de um acordão geral dos Poderes e lobbies. Além disso, o aumento do peso relativo de um setor beneficiado pode engordar essa conta.

Desde que ficou evidente que as contas do governo federal tinham ido à breca, em 2015, fala-se de mexer em gasto tributário.

É óbvio que tem muita carne para cortar, ainda que a conta da Receita possa estar exagerada. Mas é difícil fazer tal coisa sem plano e acordo maiores, expondo injustiças e ineficiências revoltantes. Lula 3 não tinha um plano.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lula podemos dizer que tem duas personalidades e duas opiniões , um quando está dentro do partido e quando a deputada Gleisi Hoffman presidente do PT fala em gastar mais, fala mal do presidente do Banco Central, ela está falando em nome do Lula do foro de São Paulo comunista com ele mesmo diz com orgulho , quando está diante das câmeras ou em encontros abertos com empresários ele fala como o Lula paz e amor , cheio de boas intenções, só que cada dia que passa se observa que o Lula um , o Petista de esquerda , é que está predominando , gastar pra conquistar os votos dos pobres , que cada vez aumenta nesse país
E a imprensa cada vez mais Desanimada com andar da carruagem , Fica se lamentando e tentando ajudar esse governo que já mostrou a que veio com seus 16 anos de mandato
Vale lembrar que a imprensa está sendo regiamente remunerada como nunca antes nesse Brasil

ADEMAR AMANCIO disse...

Sei.