Folha de S. Paulo
Investigado pela PF, já foi condenado por
desvios em contas bancárias
Depois de anos de Jair Bolsonaro e da estética chucro-cafona-agressiva que ele levou ao poder, parecia haver um cansaço desse modelo antissistema, mas o buraco pode ser mais fundo. Pablo Marçal confirma o que o pesquisador britânico Jamie Bartlett já falava antes da eleição de 2018 sobre como a internet favorece candidaturas de outsiders e de políticos de perfil autoritário.
À época, afirmei que Bolsonaro venceria no
grito, sem propostas, com xingamentos e acusações, tratando adversários como
inimigos. A tática, que parecia desgastada e tem dificultado a vitória que
Donald Trump considerava garantida, mostrou muito fôlego na Argentina, que
elegeu Javier Milei,
e ajudou Marçal a embolar a corrida em São Paulo.
Em "The People vs Tech", Bartlett
mostra que os ideais, políticas públicas, a viabilidade das promessas, a
performance de gestões anteriores, tudo isso é supérfluo. Não à toa, Marçal
desdenha do próprio desconhecimento sobre a cidade e foca nos ataques pessoais.
Como poucos, entendeu que é sobre aparência, análise de dados e o que viraliza
é grosseria e gritaria.
Tudo é obscuro sobre Marçal, uma ameaça real,
não só na eleição paulistana, mas numa eventual candidatura à Presidência, o
que ele já ensaiara em 2022. Acabou investigado pela PF por crimes eleitorais,
falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Há a condenação num processo por
desvio de dinheiro de contas bancárias.
Mas a experiência dele como coach e o
entendimento sobre o funcionamento das redes pode fazer Bolsonaro parecer um
escoteiro. Marçal é um picareta talentoso que, entre outras coisas, convenceu
60 pessoas despreparadas a subir um
pico. Na propaganda ele avisava: "só conquista o topo dessa
montanha quem está disposto a entregar todos os recursos durante o caminho.
Sangue, suor, lágrimas e gordura". Os bombeiros levaram nove horas para
resgatar o grupo. Numa eleição, o socorro demora quatro anos.
Um comentário:
Socorro!
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