sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Bruno Boghossian - Os vasos comunicantes da eleição de São Paulo

Folha de S. Paulo

Eleitores do influenciador encontraram vasos comunicantes naturais entre candidaturas de direita

Pablo Marçal liberou seus eleitores para votar "de acordo com suas convicções, princípios e ideologias". Resultado: 84% deles declaram apoio a Ricardo Nunes na largada do segundo turno contra Guilherme Boulos.

A primeira pesquisa do Datafolha nesta etapa da disputa em São Paulo mostrou que o eleitorado de Marçal fez uma migração em massa para o campo de Nunes. Ainda que o ex-coach seja um político com baixíssima solidez ideológica, os paulistanos que apoiaram sua campanha encontraram vasos comunicantes naturais entre as duas candidaturas que disputavam votos pela direita.

O próprio Marçal abriu o caminho ao longo do primeiro turno. O influenciador fez ataques duros a Nunes num esforço para desbancá-lo pela direita, mas o deputado do PSOL era pintado como seu verdadeiro adversário. A tentativa de nutrir uma aversão ao rival chegou ao ápice na antevéspera da votação, com o laudo fraudulento de internação de Boulos.

O efeito não poderia ser diferente, mas chama atenção pela intensidade. A rejeição a Boulos entre eleitores de Marçal é avassaladora: 92% dizem que não votam no candidato do PSOL de jeito nenhum. Apenas 9% rejeitam Nunes.

A aversão dos eleitores de Marçal explica quase toda a desvantagem de Boulos na batalha de rejeições deste segundo turno. Na conta geral de entrevistados, 58% dizem que não votam no deputado do PSOL, e 37% se recusam a votar em Nunes.

Com uma rejeição pessoal relativamente baixa ao prefeito, os números oferecem uma recomendação para que ele mantenha distância de nomes que poderiam ampliar essa taxa, como Jair Bolsonaro e o próprio Marçal. Nunes preservaria uma campanha com temperatura e sabor de um picolé de chuchu, enquanto Boulos tentaria colá-lo ao bolsonarismo.

O desgaste produzido por Marçal e a existência de um componente ideológico na decisão do voto de seus eleitores tornam mais complicado o trabalho de Boulos para virar o jogo no segundo turno.

A campanha do deputado do PSOL vai buscar os votos do ex-coach com um discurso focado na periferia e nos chamados trabalhadores precarizados. As mensagens podem até penetrar nesses segmentos, mas dificilmente terão volume suficiente para reverter o quadro. Para piorar a situação, 89% dos eleitores de Marçal dizem estar completamente decididos neste segundo turno.

A pesquisa também apresenta um lembrete sobre os limites à dobradinha Lula-Boulos na capital paulista. Ainda que o presidente tenha vencido na cidade em 2022, uma fatia considerável de seus eleitores não compra o candidato do PSOL: 63% votam em Boulos, e 31% em Nunes. Entre esses lulistas, 27% se recusam a votar em Boulos.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Não entendi,se 31% votam em Nunes,o mesmo percentual devia recusar votar em Boulos.