Folha de S. Paulo
Livro mostra a ascensão e o declínio das
ideias de Henri Bergson, filósofo que ganhou Nobel de Literatura em 1927
Henri Bergson não é hoje um nome que se escuta com muita
frequência fora dos círculos filosóficos, mas, nos anos 1910, ele era uma
celebridade, do tipo Taylor Swift mesmo.
Quem quisesse um bom lugar para assistir às suas aulas no Collège de France
tinha de chegar com várias horas de antecedência.
O sucesso não estava limitado à França. Bergson também atraía grandes públicos na Inglaterra e nos EUA. Ele foi a causa do primeiro congestionamento de veículos registrado na Broadway em Nova York, em 1913.
"Herald of a Restless World"
(arauto de um mundo agitado), de Emily Herring, conta a história de Bergson e
tenta explicar seu surpreendente sucesso e posterior declínio.
O filósofo, que era também um excelente
orador, criou conceitos como os de "durée" (duração, o tempo como
percebido pela consciência) e "élan vital" (princípio explicativo da
evolução, também ligado à consciência), que eram suficientemente vagos para
comportar múltiplas interpretações. Cada um via neles mais ou menos aquilo que
queria.
O filósofo, que era percebido como
revolucionário, ainda abordava temas pop, como o
livre-arbítrio, a memória e o humor. Bergson não
era propriamente um antirracionalista, mas apontava limites para a ciência, o
que, aliás, lhe valeu controvérsias com Russell e Einstein.
Tais características eram particularmente
atraentes para o mundo do final da Belle Époque.
Mas, a partir de 1918, um conflito mundial e uma pandemia depois, o Zeitgeist
mudara. Bergson nunca mais causaria o mesmo frenesi.
Ele continuou produzindo. E foi também
"se institucionalizando". Galgou postos na rígida carreira acadêmica
francesa. Tornou-se membro da Academia de Letras. Em 1927, ganhou o Nobel de
literatura. Ficou cada vez mais difícil vê-lo como disruptivo.
Algumas das ideias de Bergson permanecem
interessantes, mas hoje ninguém mais o coloca no panteão ao lado de Platão,
Aristóteles e Kant.
Mudanças bruscas no Zeitgeist, como a que feriu Bergson, talvez expliquem algumas
características do mundo de hoje.
PS – Dou uma semana de folga ao leitor.
2 comentários:
Tudo é cíclico,um dia ele volta a ficar no topo.
Os limites para a Ciência são ainda um tema atual, sendo cada vez mais evidentes e necessários.
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