Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Só uma ação fiscal corajosa, inteligente e eficiente pode evitar uma deterioração ainda maior da economia americana
O ANO de 2008 será considerado como um dos períodos mais ricos de ensinamentos para o estudioso das economias de mercado neste novo século que vivemos. Prometo a meu leitor refletir neste espaço sobre os mais importantes deles. Mas nesta primeira coluna do ano não posso deixar de escrever sobre o estágio atual da crise que atinge a todos, inclusive agora, de maneira mais clara, nós, brasileiros.
Uma realidade que se impõe desde o início é reconhecer que, sem uma recuperação importante da economia americana, o mundo não sairá da crise atual. A força das economias emergentes foi suficiente para contrabalançar a fraqueza na maior economia do mundo até o colapso, em setembro, do Lehman Brothers. A partir daí, a crise econômica no mundo mudou de qualidade e intensidade, arrastando a todos no vácuo gerado pela interrupção do crédito, fenômeno que já chamei aqui de "BIG ONE".
Em 2009, os EUA serão novamente o protagonista, relegando à condição de figurantes as outras economias do planeta. Iniciamos o novo ano com boas e más notícias.
As boas -poucas- estão relacionadas com a retomada da normalidade em alguns segmentos do mercado financeiro internacional. Respondendo à atuação firme e decisiva de alguns bancos centrais, os "spreads" de juros dos mercados interbancários mais importantes voltaram para situação anterior à falência do Lehman. Um sinal de que o pavor que dominou as relações entre os bancos privados no mundo diminuiu muito.
Mas as operações com títulos não-bancários continuam a ser realizadas com muita dificuldade.Apenas no segmento "investment grade", que representa as emissões realizadas pelas empresas "AAA" (de verdade, nesse caso), há sinal de vida com novas emissões, mas o diferencial de taxa em relação aos títulos públicos continua muito alto.
Já os mercados de títulos privados de maior risco continuam parados, com taxas nominais elevadíssimas e um diferencial em relação aos juros dos títulos públicos no mesmo nível do período mais dramático da crise.
Em resumo, já podemos notar sinais de normalização dos mercados interbancários e alguma vida nas operações com títulos privados de alta qualidade. Nos últimos dias, ocorreram também algumas emissões exitosas de títulos soberanos de países emergentes, inclusive do Brasil.
Mas, no chamado lado real da economia, os dados revelam uma aprofundamento da recessão nos EUA. O desemprego sobe aos saltos, as vendas no comércio no final do ano são fraquíssimas e os analistas esperam um PIB muito negativo em 2009. É justamente esse quadro em deterioração que tem tornado a política monetária tradicional ineficaz e levado o Fed a explorar outros mecanismos de ação.
Mas é consenso que apenas uma ação fiscal corajosa, inteligente e eficiente pode evitar uma deterioração ainda maior e mais longa da economia americana. Por isso, todos os olhos voltam-se agora para o governo Obama.
Por fim, não posso deixar de comentar os dados divulgados ontem pela Anfavea sobre a produção de veículos no Brasil em dezembro.
Um verdadeiro desastre e que vai levar a uma queda de 10% na produção industrial nesse mesmo período, derrubando o PIB brasileiro do quarto trimestre de 2008 em no mínimo 2%. Para 2009, não se deve esperar algo melhor do que 1,5% de crescimento. Quem se lembra da imagem da marolinha....
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Só uma ação fiscal corajosa, inteligente e eficiente pode evitar uma deterioração ainda maior da economia americana
O ANO de 2008 será considerado como um dos períodos mais ricos de ensinamentos para o estudioso das economias de mercado neste novo século que vivemos. Prometo a meu leitor refletir neste espaço sobre os mais importantes deles. Mas nesta primeira coluna do ano não posso deixar de escrever sobre o estágio atual da crise que atinge a todos, inclusive agora, de maneira mais clara, nós, brasileiros.
Uma realidade que se impõe desde o início é reconhecer que, sem uma recuperação importante da economia americana, o mundo não sairá da crise atual. A força das economias emergentes foi suficiente para contrabalançar a fraqueza na maior economia do mundo até o colapso, em setembro, do Lehman Brothers. A partir daí, a crise econômica no mundo mudou de qualidade e intensidade, arrastando a todos no vácuo gerado pela interrupção do crédito, fenômeno que já chamei aqui de "BIG ONE".
Em 2009, os EUA serão novamente o protagonista, relegando à condição de figurantes as outras economias do planeta. Iniciamos o novo ano com boas e más notícias.
As boas -poucas- estão relacionadas com a retomada da normalidade em alguns segmentos do mercado financeiro internacional. Respondendo à atuação firme e decisiva de alguns bancos centrais, os "spreads" de juros dos mercados interbancários mais importantes voltaram para situação anterior à falência do Lehman. Um sinal de que o pavor que dominou as relações entre os bancos privados no mundo diminuiu muito.
Mas as operações com títulos não-bancários continuam a ser realizadas com muita dificuldade.Apenas no segmento "investment grade", que representa as emissões realizadas pelas empresas "AAA" (de verdade, nesse caso), há sinal de vida com novas emissões, mas o diferencial de taxa em relação aos títulos públicos continua muito alto.
Já os mercados de títulos privados de maior risco continuam parados, com taxas nominais elevadíssimas e um diferencial em relação aos juros dos títulos públicos no mesmo nível do período mais dramático da crise.
Em resumo, já podemos notar sinais de normalização dos mercados interbancários e alguma vida nas operações com títulos privados de alta qualidade. Nos últimos dias, ocorreram também algumas emissões exitosas de títulos soberanos de países emergentes, inclusive do Brasil.
Mas, no chamado lado real da economia, os dados revelam uma aprofundamento da recessão nos EUA. O desemprego sobe aos saltos, as vendas no comércio no final do ano são fraquíssimas e os analistas esperam um PIB muito negativo em 2009. É justamente esse quadro em deterioração que tem tornado a política monetária tradicional ineficaz e levado o Fed a explorar outros mecanismos de ação.
Mas é consenso que apenas uma ação fiscal corajosa, inteligente e eficiente pode evitar uma deterioração ainda maior e mais longa da economia americana. Por isso, todos os olhos voltam-se agora para o governo Obama.
Por fim, não posso deixar de comentar os dados divulgados ontem pela Anfavea sobre a produção de veículos no Brasil em dezembro.
Um verdadeiro desastre e que vai levar a uma queda de 10% na produção industrial nesse mesmo período, derrubando o PIB brasileiro do quarto trimestre de 2008 em no mínimo 2%. Para 2009, não se deve esperar algo melhor do que 1,5% de crescimento. Quem se lembra da imagem da marolinha....
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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