terça-feira, 16 de março de 2010

E o Brasil com isso? :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Lula, como todo mundo sabe, é um homem de sorte, mas ele não tem tido nem prudência nem essa sorte toda nas suas últimas investidas em busca do tal protagonismo internacional.

Deu o tremendo azar de botar os pés em Cuba e se deixar fotografar com fartas risadas justamente no dia da morte de um dissidente em greve de fome. Recusou-se a ir à posse do presidente Sebastian Piñera no Chile, deixando uma percepção desconfortável de dar as costas a um colega por ser "de direita". E agora a ida a Israel.

Os presidentes brasileiros enrolaram durante um século, e Lula adiou para o último dos seus oito anos de governo pisar em Israel. E pisou num mau momento, quando o país anuncia a construção de 1.600 moradias em Jerusalém Oriental e assim irrita não só os seus principais inimigos, os palestinos, como os seus maiores amigos, os EUA. O que, aliás, Hillary Clinton deixou claríssimo. E Lula lá, bem no meio desse rolo monumental e às vésperas de sua visita de maio ao vespeiro Irã, que já é uma ilha entre inimigos e se isola cada vez mais da comunidade internacional com a ameaça velada de fabricar a bomba atômica.

Não deu outra. Na visita ao Knesset (Parlamento israelense), Lula ficou tão isolado quanto o próprio Irã, em meio a uma saraivada de cobranças pela posição brasileira, acusada de dar "legitimidade indireta" ao regime iraniano.

Para piorar, a simbiose imprensa-diplomacia produziu fofocas durante todo o dia. Lula não foi ao túmulo de Theodor Herzl, um dos idealizadores do sionismo. Logo, o ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, também se recusou a ir ao Knesset prestigiá-lo.

Essas idas e não idas são tão insignificantes quanto a nova mania brasileira de se meter onde não deve e de dar passos maiores do que as pernas, sem efeitos práticos. Ilustram à perfeição, portanto, a verdadeira dimensão da visita de ontem.

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