A presidente Dilma conseguiu manobrar com muita habilidade a saída de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura, a ponto de se livrar de mais um assessor direto envolvido em corrupção sem criar um clima de impasse com o PMDB, pelo menos aparentemente. E avançou na sua política de "limpeza ética".
O vice-presidente Michel Temer, fiador de Rossi no ministério, teve o bom senso de levar o apadrinhado a pedir demissão antes que perdesse o controle da situação, mas certamente não deve estar satisfeito. Mas ganhou o direito de indicar o substituto, sem o direito político de errar novamente.
O ministro demitido, além de ser do PMDB, é do PMDB paulista, cuja organização está sob o comando de Temer, depois da morte de Orestes Quércia.
E é em SP que repercutem algumas demissões, como a de Mario Moysés, ex-secretário-executivo de Marta Suplicy quando ministra do Turismo.
Ontem, o TCU aumentou as agruras de Marta, virtual candidata à prefeitura de SP, decretando o bloqueio de Moysés, que era presidente da Embratur e foi apanhado pela Operação Voucher.
E não foi por acaso que o ex-ministro Wagner Rossi, na carta de demissão, insinuou que as acusações contra ele têm a ver com a política paulista.
A referência velada ao tucano José Serra, que seria, segundo ele, "o único político brasileiro" a poder manipular o noticiário da imprensa em seu benefício, é mais um dado da disputa da prefeitura paulista.
O governo, de maneira geral, e o PT e o PMDB em especial, estão convencidos de que Serra será o candidato do PSDB à sucessão do prefeito Gilberto Kassab e colocam na sua conta as denúncias contra o governo, dando a Serra um poder quase sobrenatural, que se ele possuísse teria tido mais sorte nas vezes em que disputou a Presidência da República.
O PMDB paulista está empenhado em fazer do deputado federal Gabriel Chalita seu candidato à prefeitura, e considera que as denúncias contra Rossi, um dos principais apoios de Chalita, juntamente com Temer, fazem parte dessa disputa.
É evidente que é mais fácil para quem sai do ministério sob acusações culpar manobras políticas ou a imprensa por sua desdita.
Existem dois pontos a serem considerados na questão da segurança pública no Rio: o caso do assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo, é gravíssimo, um atentado à democracia, e, se não for esclarecido, com os mandantes e assassinos punidos, abre-se o campo para uma prática perigosa que já aconteceu em outros países, como a Colômbia, e em outros estados brasileiros, como o Espírito Santo quando era dominado por grupos mafiosos que tomaram conta de toda a estrutura do estado, até mesmo da Justiça e da Assembleia Legislativa, com a conivência do governo estadual.
Foi o primeiro e único estado até hoje que, por um período, foi dominado por uma organização criminosa, desbaratada com a reação conjunta da sociedade e dos políticos, com o auxílio de forças federais.
Aqui no Rio, não temos, apesar desse assassinato brutal, e de fatos anteriores em que agentes penitenciários foram fuzilados, clima de descontrole, e por isso mesmo esse crime tem de ser desvendado e seus autores e mandantes, punidos exemplarmente.
O combate à bandidagem nos morros do Rio, carro-chefe do governo Sérgio Cabral, tem tido inegável êxito.
O estado está paulatinamente retomando o controle de territórios que eram dominados por traficantes de drogas.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) têm se revelado eficazes nessa retomada, e a decisão de levar os serviços sociais essenciais a esses locais para reafirmar a presença do Estado, tudo indica, poderá consolidar essa política.
Mas está surgindo nos últimos dias efeito colateral dessa política que é muito perigoso, e que o governo deveria ter se organizado para combater. Trata-se da onda de assaltos pela cidade, que tem no ônibus tomado por bandidos no Centro da cidade o episódio exemplar.
A polícia agiu de maneira temerária e, embora tenha conseguido salvar os reféns e prender os bandidos, colocou em risco não apenas os passageiros do ônibus como os transeuntes, numa demonstração de que não foi treinada o suficiente para minimizar os riscos. Tantos anos depois do episódio do ônibus 174, não aprendemos a atuar em situações de risco como essas.
O assalto ao carro do treinador Zagallo, de 80 anos, quando levava sua senhora para um hospital em Botafogo, também é exemplar do surto de ações criminosas em diversos pontos da cidade, com sequestros-relâmpago, arrastões e assaltos a locais de turismo, principalmente hotéis.
Esses episódios são sinais de que os morros foram ocupados, e os bandidos expulsos desses locais estão atuando de outra forma. E aumenta a insegurança na cidade com assaltos a apartamentos, a carros nos sinais, a transeuntes.
Seria de se esperar que esse tipo de crime aumentasse, e que muitos desses criminosos fossem para outras cidades do interior, onde o índice de criminalidade tem crescido.
Inclusive porque a tática do governo é avisar com antecedência que vai invadir este ou aquele morro, dando tempo para os bandidos saírem sem resistir à chegada da polícia, para evitar banho de sangue e colocar em risco os moradores.
Isso porque a ideia principal das UPPs não é acabar com o tráfico de drogas, mas com o domínio dos bandidos sobre o território das favelas.
Interessa mais a essa política liberar as favelas para os cidadãos do que propriamente impedir o tráfico e prender os traficantes. É razoável que se tenha essa estratégia, mas é o caso de perguntar: onde estão os bandidos, foram para onde?
Diz o governo que, daquele grupo que fugiu do Morro do Alemão, com a televisão mostrando a famosa imagem dos bandidos em debandada, já foram presos mais de 200.
Pode ser, mas há muitos outros soltos pelas ruas do Rio, a exigir uma estratégia específica de reforço do policiamento.
FONTE: O GLOBO
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