Fazia tempo que não se ouviam vozes de oposição nos atos de 1° de Maio, nos últimos anos apenas celebrações governistas. Fazia tempo também que Dona Inflação não subia em palanques.
A velha senhora já vinha freqüentando os salões, motivo de análises e debates entre especialistas e interessados em acompanhar mais de perto a economia. Caiu na boca do povo com a história do tomate, virou piada de programa de televisão.
Neste 1° de Maio tornou-se o centro das atenções político/eleitorais. Foi tema de pronunciamento presidencial, mote de discurso de provável candidato a presidente pelo PSDB, objeto de réplica na voz de um ministro, tópico de entrevista de dissidente da base governista e alvo de uma sandice proposta por du-blê de deputado e presidente de central sindical.
A presidente Dilma Rousseff foi ao rádio e à televisão dizer que a luta contra a inflação é “constante, imutável, permanente”; o senador Aécio Neves discursou para trabalhadores alertando para o “fantasma que ron-da a mesa dos brasileiros""; no mesmo ato, o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, assegurou que Dilma “zela como uma leoa para que a inflação não coma nossos salários”.
- Em Caruaru (PE), o governador Eduardo Campos reafirmava críticas à política econômica enquanto em São Paulo correligionários do PSB avalizavam as palavras do senador tucano; no mesmo palanque o anfitrião, deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, dava o toque picaresco propondo a volta do gatilho salarial para reajustar a inflação de três em três meses.
Queira o bom senso que governantes e governados já tenham aprendido os males desse caminho; que determinados instrumentos de suposta defesa contra a corrosão inflacionária não sejam nem"precisem ser reincorporados ao cotidiano do País.
Mas, convenhamos: o simples fato de a inflação voltar a ser assunto, argumento de embate político e ocupar de novo um espaço do qual havia sido expulsa, desanima. Não foi para isso que se fez tanto sacrifício, não foi para isso que tanto se comemorou a inclusão da estabilidade como um valor sólido, patrimônio da sociedade.
É lamentável constatar que a oposição começa a ganhar espaço pelo pior dos motivos: o flanco aberto pelo governo (o atual e o anterior, que produziu passivos cujos efeitos são sentidos agora) na tarefa de garantir a firmeza e a perpetuação dos fundamentos que deram ao Brasil a chance de ter uma geração de cidadãos que nunca souberam o que é conviver com uma moeda deteriorada.
Por ora, dizem os especialistas mais isentos, não há risco de retorno àquele dantesco cenário. Mas os buracos profundos são cavados aos poucos e o ideal é que não se dê sorte ao azar, acreditando que paliativos curam j doenças graves.
O governo hesita, desconsidera os alertas de quem entende do riscado. Faz isso por convicção de que pode reinventar a receita da roda, por apreço à governança eleitoreira ou por ambos os motivos, Se não tomar cuidado, arrisca-se a morrer do próprio veneno e perder a próxima eleição.
Está escrito, O deputado Roberto Freire, presidente do MD (Mobilização. Democrática) resultante da fusão do PPS com o PMN, diz que o ex-prefeito Gilberto Kassab está equivocado quando afirma que, para a Justiça, “fusão” não tem o mesmo significado de “novo partido” no tocante aos casos em que se permite a troca de legenda sem perda de mandato.
“Kassab não leu o artigo 29 da Lei dos Partidos (n.° 9.096, de 1995) que deixa muito claro que uma legenda resultante de fusão é um novo partido.” Por essa legislação, acrescenta Freire, não correm risco de punição os parlamentares que se filiarem ao MD.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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