quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ofensiva contra Marina

Presidente Dilma monta estratégia de olho nos indecisos e nos eleitores descontentes com a aliança entre a ex-ministra do governo Lula e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos

Paulo de Tarso Lyra, Daniela Garcia e Julia Schiaffarino

BRASÍLIA E RECIFE – A presidente Dilma Rousseff lançou uma ofensiva contra Marina Silva na tentativa de captar os votos dos eleitores indecisos ou daqueles que desaprovaram a união da ex-senadora com o presidente do PSB, Eduardo Campos. Ambas estão trocando farpas há dois dias, por meio de entrevistas e postagens nas redes sociais. Além disso, Dilma lança amanhã um plano de agroecologia sustentável e vai intensificar as viagens ao Nordeste até o fim de novembro, para abafar o prestígio do governador de Pernambuco na região.

A avaliação do Planalto é que o resultado da pesquisa Datafolha do fim de semana – mostrando Dilma Rousseff com 42% das intenções de voto, Aécio Neves (PSDB-MG) com 21% e Eduardo Campos (PSB-PE) com 15% – é o grid de largada da eleição presidencial de 2014. A partir daí, o esforço é para angariar o máximo de eleitores que não se alinharam a nenhuma candidatura até o momento.

Dilma escolheu Marina como antagonista por reconhecer o estrago que a ex-senadora pode fazer nos planos petistas de reeleição para o Planalto. "As coisas estão bem encaminhadas. Mas é claro que se houver a crise econômica ou a Marina for a candidata no lugar de Eduardo, as coisas ficam mais difíceis", admitiu um aliado da presidente.

Na última segunda-feira, Dilma sugeriu que opositores devem estudar para apresentar propostas para o país. "Acredito que as pessoas que querem concorrer ao cargo têm de se preparar, estudar muito, ver quais são os problemas do Brasil, ter propostas. Eu passo o dia inteiro fazendo o quê? Governando", afirmou ela, durante visita a Minas Gerais. Em resposta à petista, Marina, respondeu, horas mais tarde, no Recife: "Ela (Dilma) deu um conselho de professora. Eu acho que ela dá um conselho muito bom porque aprender é sempre uma coisa muito boa. Difícil são aqueles que acham que já não têm mais o que aprender e só conseguem ensinar", disse Marina.

Dilma desembarcou ontem na Bahia, mas não esqueceu a resposta dada pela ex-senadora. E achou que merecia uma tréplica, embalada pelo Dia do Professor. A resposta veio pelo Twitter: "Acredito que a gente nunca para de aprender, aprendemos sempre, aprendemos com as outras pessoas, aprendemos estudando. Não acredito naqueles soberbos que julgam que nascem sabendo ou que já aprenderam tudo. Serei sempre uma aluna do mundo", escreveu, no microblog.

Aliado de Marina, Eduardo Campos resolveu entrar na disputa pedagógica, mas em tom bem mais ameno. "Estudar sempre é bom. Eu todo dia procuro estudar alguma coisa", afirmou ele, durante um evento de tecnologia no Recife.

Moradia. À noite, novos ataques de Marina. Em entrevista ao Programa do Jô, a ex-senadora afirmou que é preciso acabar com a polarização entre PT e PSDB e disse que a presidente é chantageada pelo Congresso há quatro anos. "A gente não suporta mais o que está aí. Eu acho que a gente pensa sempre, no processo político, na perspectiva de projeto de poder. Eu insisto que é preciso um projeto de país e essa disputa será boa para todo mundo. E eu não consigo imaginar que a presidente Dilma Rousseff possa se sentir tranquila mais quatro anos sendo chantageada pelo Congresso", afirmou.

A ex-senadora defendeu que a base de sustentação de um governo precisa ser montada apoiada em um programa para o país e não moldada apenas em distribuição de cargos a pessoas sem identidade para ocupá-lo. "A composição não precisa ser feita na distribuição de partes do Estado. É possível ter uma base de sustentação a partir de um programa", disse ela, afirmando ser necessário "aposentar a Velha República".

Ontem, em Vitória da Conquista, na Bahia, em clima de campanha eleitoral, a presidente anunciou planos para uma terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, depois das eleições de 2014. Segundo ela, "não basta fazer 2,750 milhões de casas no Brasil" que serão entregues pelo programa até o ano que vem. "Vamos ter de repetir a dose", disse. Depois, ela corrigiu a fala para não ser acusada de crime eleitoral: "Quem vier depois de mim tem de repetir a dose, por isso nós vamos avaliar uma nova quantidade de habitações e vamos colocar a viabilidade dessas habitações bem clara". A presidente não detalhou quanto deverá ser investido nem a quantidade de casas que serão construídas na terceira fase do programa habitacional. Amanhã, no Palácio do Planalto, Dilma lança o Plano Nacional de Agroecologia e Agricultura Familiar. Aprovado em junho, ele destinará R$ 8,4 bilhões a ações de desenvolvimento rural sustentável, com financiamento e treinamento para aumentar a produtividade de pequenos agricultores familiares.

Fonte: Correio Braziliense

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