• As três mais importantes agências de avaliação de risco mantêm o Brasil no grupo de caloteiros potenciais
- O Estado de S. Paulo
Embora com atraso em relação às outras agências de avaliação de risco, a Moody’s anunciou nesta quarta-feira o rebaixamento da dívida do Brasil ao grupo dos pagadores de reputação duvidosa.
Esse rebaixamento veio com duas agravantes. O primeiro tem a ver com a intensidade.
Normalmente, a perda de posições na classificação de risco é gradual e espaçado, um dente de cada vez. Mas, agora, a Moody’s rebaixou os títulos do Brasil logo em dois graus. A segunda agravante foi prever “tendência negativa” à qualidade da dívida. Isso significa que já está encomendado novo rebaixamento, que deverá chegar dentro de mais alguns meses.
Agora as três mais importantes agências de avaliação de risco (Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s) mantêm o Brasil no grupo de caloteiros potenciais.
É uma situação que reduz o mercado dos títulos brasileiros, porque grande número de fundos e de carteiras de ativos não pode, por lei ou disposição estatutária, fazer investimentos em títulos de dívida que carregam certa dose de risco de inadimplência.
Como a demanda cai, o valor dos títulos fica mais baixo e, com isso, a remuneração (yield) aumenta.
Entre as justificativas para a decisão, a Moody’s apresentou duas em sua nota oficial: a forte deterioração da dívida brasileira, que tende a saltar para acima dos 80% do PIB em três anos; e “a dinâmica política desafiadora, que complica a consolidação dos esforços fiscais das autoridades e atrasa as reformas estruturais”.
Em outras palavras, a deterioração das contas públicas aumenta substancialmente o risco de que a dívida brasileira deixe de ser honrada no vencimento. Enfim, não é nada diferente do que os analistas da área econômica vêm apontando todos os dias.
O que precisa ser questionado agora não são mais os graves equívocos de política econômica que produziram o desastre, mas a estratégia para dele sair. A proposta do governo Dilma é ater-se a cortes cosméticos aqui e ali. É reduzir meia dúzia de ministérios, atrasar pagamentos e surrupiar dinheiro do santo, como os depósitos judiciais e as reservas dos precatórios. Nesse ritmo e nessa enganação não há solução à vista. O governo apenas aprofunda as mazelas e dificulta a recuperação.
É outro ledo engano imaginar que não fazendo nada, as coisas se consertam por si sós, como galho quebrado pelo vento que rebrota em semanas.
Não há nenhuma indicação de que mais adiante aconteça a virada. Empurrar a recuperação alguns meses à frente não ajuda em nada a reanimar quem investe e quem trabalha. No final de 2014, o governo prometera que tudo melhoraria em meados de 2015, com retomada do crescimento e inflação na meta. Agora, isso vai ficando para 2017 ou pra quando der. E o desânimo vai aumentando.
O que precisa ser perguntado agora é se a doença não precisaria de tratamento de choque, para que, uma vez recuperada a confiança, toda a economia possa tirar proveito da nunca vista abundância de recursos à espera de oportunidades para aplicação. Mas o governo acha que ainda pode salvar alguma coisa do capotamento eleitoral... e não sai disso aí.
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