Falando em São Paulo, na segunda-feira passada, a representantes do agronegócio, o presidente em exercício Michel Temer comemorou o apoio que recebia de 46 entidades do setor enfatizando que seu governo precisará cada vez mais desse tipo de solidariedade, porque “a partir de certo momento” terá que recorrer a “medidas, digamos assim, mais impopulares”. Num país que acaba de ser dramaticamente despertado do sonho populista em que os governantes só abrem a boca para dizer o que as pessoas querem ouvir, é certamente uma boa notícia saber que o presidente da República, mesmo que interino, está consciente de que sua preocupação prioritária não deve ser a de garantir sua próxima eleição ou sua popularidade a qualquer preço, mas adotar políticas sustentáveis em benefício do bem comum, mesmo que a curto prazo contrariem lideranças populistas que só agem pensando no aqui e agora, para assim controlar a massa de manobra que as sustenta.
Mesmo de um governo que se formou num momento de crise aguda – e assumiu o poder em caráter interino, mas com a perspectiva concreta de ali permanecer por dois anos e meio – a população tem o direito de esperar um discurso renovado, sinceramente comprometido com a correção das distorções e erros que levaram o País à beira do abismo econômico, ao caos político e, consequentemente, à tragédia que significa o retrocesso nos avanços sociais tristemente simbolizada por uma multidão de mais de 11 milhões de desempregados.
Temer fez questão de repetir o que já havia afirmado poucos dias depois de assumir a interinidade, quando apresentou como credencial para merecer o crédito e o apoio dos brasileiros o fato de não cultivar objetivos eleitorais próprios. Agora, garantiu, não terá receio de propor medidas consideradas impopulares porque ambiciona apenas “colocar o Brasil nos trilhos”, sem pensar em eleições. É um discurso difícil de ser mantido num período de grandes dificuldades para todos, como o atual. Se, com o trabalho da equipe econômica que formou, o governo Temer apresentar, ao seu final, uma economia com sinais claros de recuperação, seu esforço poderá alcançar o reconhecimento da população. Mas essa é uma questão política que emergirá no pleito presidencial de 2018.
Quando se trata de medidas necessárias para superar a crise, mas delicadas do ponto de vista do apoio popular – e por essa razão difíceis de serem aprovadas pelo Congresso Nacional –, o melhor exemplo é a inadiável reforma da Previdência Social. O problema é evidente: da forma como está, o sistema é insustentável financeiramente. No longo prazo estará falido. O longo prazo, porém, não faz parte do horizonte daqueles que, em seu cínico pragmatismo, só pensam nos seus interesses imediatos e na sua sobrevivência política, como os populistas tipo Luiz Inácio Lula da Silva e seu bando. Mas não se pode permitir, porque é socialmente injusto, que as contas de hoje sejam pagas, com a privação do benefício, pelos cidadãos de amanhã.
É exatamente isso que vai acontecer se não for feita urgentemente uma reforma que garanta sustentabilidade ao sistema, num país em que em pouco mais de seis décadas a expectativa de vida aumentou cerca de 20 anos, de 53 para 73. E a tendência é de que, por volta da metade do século, o número de aposentados e pensionistas seja no mínimo igual ao dos cidadãos economicamente ativos. O que significa que não apenas o número de contribuintes da Previdência será muito menor do que é hoje em relação aos beneficiários, como também estes últimos permanecerão dependentes do sistema por muito mais tempo. É uma conta que, nas bases atuais, não vai fechar.
É necessário, portanto, como o exemplo da Reforma da Previdência claramente demonstra, que seja vigorosamente combatida a irresponsabilidade populista que apregoa a “intocabilidade dos direitos” atuais, desconsiderando, por puro cálculo eleitoral – já que os cidadãos de amanhã não votam hoje –, que a justiça social deve se estender às gerações futuras.
Se permanecer fiel a esse compromisso de homem público, Michel Temer estará assumindo plenamente a responsabilidade de presidente da República e fazendo um grande bem ao País.
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