terça-feira, 23 de maio de 2017

Lula denunciado no caso do sítio de Atibaia

A Lava-Jato denunciou o ex-presidente Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia. Segundo o MPF, Lula recebeu propina de empreiteiras em forma de obras no sítio, do qual seria o real proprietário. Outras 12 pessoas foram denunciadas, entre elas, Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro. O dinheiro para as reformas foi relacionado a desvios na Petrobras.

Lula é denunciado por lavagem e corrupção

Lava-Jato aponta crimes relacionados às obras do sítio em Atibaia; outras 13 pessoas também responderão

Cleide Carvalho, Gustavo Schmitt e Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi denunciado pela terceira vez à Justiça Federal do Paraná por corrupção e lavagem de dinheiro, agora relacionadas ao sítio de Atibaia (SP). Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, o gasto de R$ 1,020 milhão com obras do imóvel, para adequá-lo à família Lula, foram pagos de forma oculta pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin.

As empreiteiras OAS e Odebrecht teriam repassado R$ 870 mil para construção de anexo e benfeitorias no sítio, incluindo móveis para a cozinha. Outros R$ 150 mil são atribuídos a propinas decorrentes de contratos do Grupo Schahin, com reformas conduzidas pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. Bumlai foi condenado na Lava-Jato por ter emprestado seu nome para um empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin ao PT.

Além de Lula, 13 pessoas foram denunciadas. O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro responderá por corrupção e lavagem de dinheiro. O empresário Marcelo Odebrecht e Agenor Medeiros, executivo da OAS, foram denunciados por corrupção ativa. Outras dez pessoas terão de responder por lavagem de dinheiro: o empresário Emílio Odebrecht, o executivo Alexandrino Alencar, o segurança Rogério Aurélio Pimentel (assessor de Lula), Fernando Bittar, Carlos Armando Guedes Paschoal, Emyr Diniz Costa Júnior, Roberto Teixeira, José Carlos Bumlai, Fernando Bittar e Paulo Roberto Valente Gordilho. Eles foram acusados da prática do crime de lavagem de dinheiro.

O sítio de Atibaia está em nome de Fernando Bittar e Jonas Leite Suassuna Filho, que não foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF).

Os valores gastos com reformas foram vinculados a pelo menos quatro contratos firmados pela Petrobras com a Odebrecht (R$ 128,1 milhões) e três com a OAS (R$ 27 milhões). De acordo com o MPF, Lula foi o responsável por estruturar, orientar e comandar pagamento de propina a partidos, políticos e funcionários públicos.

“Efetivamente, Lula comandou a formação de um esquema criminoso de desvio de recursos públicos destinado a comprar apoio parlamentar de agentes políticos e partidos, enriquecer ilicitamente os envolvidos e financiar caras campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores em prol de uma permanência no poder assentada em recursos públicos desviados”, escreveram os procuradores.

Entre as provas, o MPF anexou emails encaminhados por “Maradona”, o caseiro do sítio, ao Instituto Lula.

CASEIRO AVISOU MORTE DE PINTINHO
Num deles, o caseiro envia uma lista de materiais para realização de obras e, no texto, escreve que combinou com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, já falecida, que os materiais de acabamento seriam vistos depois.

Em outro e-mail encaminhado por Maradona ao Instituto Lula, em agosto de 2014, o título era “lago e pato” e foram enviadas seis fotos do lago e de pedalinhos do sítio, que foram adquiridos pelo segurança de Lula. Os pedalinhos levavam o nome de netos do ex-presidente.

Em outubro de 2014, Maradona mandou outro e-mail para o Instituto Lula com o título “armadilha” e informou: “Morreu mais um pintinho essa noite e caiu dois gambá (sic) nas armadilhas”. Poucos dias depois, com o título “pintinho”: “A pirua (sic) esmagou os três pintinhos de pavão que estava (sic) com ela”. Em abril de 2014, mandou outra mensagem com o título “avião aqui na chácara hoje pela manhã”, acompanhado de uma foto.

Os procuradores levantaram também dados do sistema “Sem Parar”, que indicam que veículos usados por Lula foram ao sítio de Atibaia pelo menos 270 vezes entre 2011 e 2016.

A defesa de Lula disse, em nota, que a denúncia “mostra uma desesperada tentativa de procuradores da República justificar à sociedade a perseguição imposta ao ex-presidente nos últimos dois anos, com acusações frívolas e com objetivo de perseguição política”. Também em nota, o Instituto Lula disse que a Lava-Jato reconheceu que o ex-presidente não é dono de sítio em Atibaia.

Ao apresentar à Justiça a denúncia contra Lula, os procuradores manifestaram “estarrecimento” com as evidências de crimes praticados pelo presidente Michel Temer e pelo senador Aécio Neves, que presidia o PSDB, e afirmaram que “há indícios de manobras para ferir de morte a Lava-Jato”.

Em nota, disseram que, depois de três anos de investigação, “líderes políticos continuam a tramar no escuro a sua anistia, a colocação de amarras nas investigações e a cooptação de agentes públicos, ao mesmo tempo em que ficam livres para desviar o dinheiro dos brasileiros em tempos de crise, utilizando como escudo sua imunidade contra prisão e o foro privilegiado”.

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