Difunde-se a tese de que houve uma conspiração contra Temer, que precisaria ser desmascarada
Com base na má qualidade da gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, e brechas abertas pelo Ministério Público Federal ao pedir a abertura de investigações sobre seu envolvimento em atos ilícitos cometidos pelo grupo econômico, o presidente Michel Temer resolveu apostar todas as fichas na anulação da principal prova apresentada contra ele pelos procuradores da Operação Lava-Jato. Ontem, o perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, “desconstruiu” a gravação em entrevista coletiva, qualificando-a de “imprestável”. Foi com base na gravação e em informações prestadas por Joesley e o irmão Wesley Batista que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.
Guedes também desistiu do pedido de suspensão do inquérito que havia apresentada no fim de semana e que seria apreciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na sua sessão plenária de amanhã. Segundo ele, a defesa contratou uma perícia própria que constatou 70 “pontos de obscuridade” na gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, na qual a Procuradoria-geral da República vê indício de cometimento de crimes pelo presidente da República. Guedes acredita que o inquérito irá “provar a inocência” de Temer. O advogado afirmou que a única prova do inquérito contra Temer é o áudio.
O perito Ricardo Molina fez uma análise detalhada da gravação. Segundo ele, há “inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruído, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa” na gravação relacionada ao presidente, que “deveria ter sido considerada imprestável desde o primeiro momento. E assim o seria, se aparecesse no bojo de um caso sem as conotações políticas que aqui prevaleceram”, afirmou o perito em entrevista ao lado de advogados de Temer. “Numa situação normal, essa gravação jamais seria aceita como prova. Não existe prova mais ou menos boa. Ou ela é boa ou não presta”, disparou.
A perícia de Molina acirra o choque entre Temer e os responsáveis pelas investigações, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ministro-relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin. Nos meios políticos, difunde-se a tese de que houve uma conspiração contra Temer, que precisaria ser desmascarada. Por isso, o Palácio do Planalto opera em todas as frentes para “desconstruir” a denúncia, ao mesmo tempo em que tenta demonstrar que tem as rédeas do país nas mãos.
O recuo em relação ao pedido de suspensão da investigação serviu para Temer ganhar tempo, pois uma decisão desfavorável ao governo no plenário do Supremo Tribunal Federal, na quarta-feira, poderia ser fatal. Ao mesmo tempo, o governo pretende dar uma demonstração de força no Congresso. Na Câmara, ainda hoje, em sessão extraordinária, quer aprovar o projeto que convalida isenções concedidas no âmbito da guerra fiscal entre os estados (PLP 54/15). Amanhã, poderão ser votadas oito medidas provisórias que estão próximas do prazo de validade — elas perdem a vigência entre os dias 29 de maio e 2 de junho.
São medidas de fácil aprovação, mas as sessões serão obstruídas pela oposição e, por isso mesmo, serão uma boa oportunidade para Temer exibir os músculos no Congresso. Mas a grande cartada do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi pautar a discussão e votação da reforma da Previdência em plenário, de 5 a 12 de junho. A aprovação da reforma é considerada o maior teste de força do governo no Congresso.
Gravadores e malas
O Ministério Público Federal está sendo criticado por endossar as denúncias sem uma perícia mais rigorosa das gravações. Somente ontem a Polícia Federal, que dispõe de meios para isso, recebeu um dos gravadores utilizados pelo dono da JBS, Joesley Batista, para gravar as conversas dele com políticos. Haveria ainda um segundo gravador, que deve ser entregue pelo empresário. Não se sabe se é o aparelho utilizado pelo empresário na conversa com o presidente Michel Temer. A defesa de Joesley Batista informou que o gravador utilizado por ele para registrar a conversa está nos Estados Unidos e chegará ao país ainda hoje. A informação é do advogado do empresário, Francisco Assis.
Também há controvérsias sobre as malas de dinheiro utilizadas nas “ações controladas”. A Polícia federal informou que não conseguiu recuperar todas as malas utilizadas pelo executivo da JBS Ricardo Saud para entregar dinheiro a políticos nas operações de busca e apreensão realizadas na semana passada. Pelo menos uma delas estava equipada com um chip para monitorar o caminho do dinheiro entregue por Saud.
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