quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“Injustiça a gente enfrenta com emprego”, diz Alckmin

Governador de São Paulo aborda diferentes temas e destaca trabalho como o problema do futuro, pois ‘não há consumo sem salário’

- O Globo

Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin mantém um perfil de político moderado. Ao falar de seu governo e de política, recorre a velhas histórias contadas pela família e a passagens vividas ainda quando prefeito de Pindamonhangaba. Na lista de tucanos cotados à vaga de candidato do PSDB a presidente, Alckmin, que chegou a ser acusado de envolvimento com a Lava-Jato, diz que é a favor da operação. Ele afirma também que o presidente Michel Temer tem direito de concorrer à reeleição e não esconde as crises enfrentadas por seu partido.

CRISE DO PSDB E AÉCIO
“Todos os partidos estão fragilizados. Quando você tem 35 partidos, uma fragmentação dessa proporção, é óbvio que todos os partidos acabaram fragilizados. O PSDB teve papel importante no país em vários estados onde foi governo e também na área federal, com uma contribuição significativa. Em relação ao (senador) Aécio (Neves), pouca gente registrou, até porque eu não fiquei falando na imprensa, mas quando houve a prorrogação (do mandato na presidência do PSDB) ... O Aécio foi eleito e reeleito. Não pode ser ‘trieleito’. Quando foi prorrogado o mandato, teve só dois votos contra na Executiva inteira, foram os dois deputados federais de São Paulo ligados a nós, o Sílvio Torres e o Eduardo Cury. Não tinha sentido prorrogação depois de dois mandatos. Isso foi feito. Nesse episódio agora do afastamento do Tasso Jereissati (da presidência interina do PSDB), eu não fui consultado, mas declarei publicamente: sou contra. Não tem o menor sentido afastar o Tasso da presidência do partido sob o argumento de que “olha, podemos ter dois candidatos, então precisamos ter isonomia”. Isso não existiu. Ele (Aécio) foi reeleito sem se afastar, foi ‘trieleito’, foi prorrogado também sem se afastar. Agora, acho que essas coisas são superadas”.

DESIGUALDADE
“O Brasil é injusto. E como a gente enfrenta isso? É com emprego. O PT acabou com o emprego: 13 milhões de desempregados, 7 milhões de desalentados, mais 5 milhões no subemprego. Uma coisa atrasada, sindical. A reforma trabalhista vai estimular o emprego e diminuir a informalidade.(...) O grande problema do futuro é o emprego, porque a tecnologia desemprega, e não há consumo sem salário. O Brasil é vocacionado para crescer. Quando a gente fala em reforma da Previdência é para gente ser justo, nós temos um sistema profundamente injusto. Quando falamos em reforma tributária devemos buscar justiça, você tem tributo sobre propriedade, renda e consumo. O Brasil tem sobre o consumo, o consumo e o consumo. Quem ganhar dois salários, metade será para pagar imposto”.

APOIO À LAVA-JATO
“Todo apoio à Operação Lava-Jato. Eu acho importante a investigação, separar o joio do trigo: isso aqui tá ok, isso aqui tem punição. O Brasil está passando por um processo e vai sair mais forte. Antes nós tínhamos a chamada impunidade do colarinho branco, hoje nós temos uma democracia mais fortalecida”.

ACUSAÇÕES DE DESVIOS
“Do ponto de vista de governo de estados, se há um governo ajustado, é o de São Paulo. Aliás, um governo que quebrou cartéis é o nosso. Tem absoluto rigor, transparência. Nada como a luz do sol. E, se tiver uma coisa errada, apure-se e puna-se”.

ABORTO, DROGAS E GAYS
“Sobre o aborto, não alteraria a legislação atual, que permite o procedimento em caso de estupro e risco de vida da mãe. Acho que a lei está de bom tamanho. A questão do casamento homoafetivo é um contrato, é uma segurança legal, não vejo nenhum problema nisso. Duas pessoas fazem um contrato, estabelecem uma regra de convivência e proteção. Em relação à descriminalização das drogas, eu não colocaria em votação nesse momento. Mas acho que é um tema que precisa ser aprofundado. Deve ser estudado e avaliado. Hoje, eu não tenho argumentos para ser favorável. Não teria e não terei. A questão da droga é central. Tanto na maioria dos casos envolvendo jovens da Fundação Casa quanto os que estão presos, a droga está diretamente ligada. Seja no tráfico ou no roubo para custear a droga”.

DEPUTADOS PRESOS
“A questão do Rio de Janeiro é difícil. Para quem não é advogado, entender por que, num dia, deputados são presos e, no outro, são soltos. Mas isso é um assunto interno da Assembleia Legislativa, e ela deve responder por isso”.

CANDIDATURA TUCANA
“Defendo que candidato não pode ser escolhido em véspera de eleição. Não pode escolher na convenção. Tudo que é improvisado é mal feito. Tem que escolher no início do ano, em janeiro, para (o candidato) poder percorrer o país, ouvir, dialogar. E, por outro lado, a televisão ainda é decisiva. Vamos caminhar com uma boa aliança. Não vou citar (partidos) porque é indelicado. Todo partido quer ter candidato, e você só pode fazer aliança com quem não tiver. E ninguém vai decidir um ano antes, mas as expectativas são positivas. Se tiver cinco partidos (na coligação), é mais do que suficiente. Acredito que a população vai exigir muita qualidade nessa nova eleição, que pode surpreender no sentido de qualidade e propostas políticas. Não tem como unir todo mundo, porque é natural que num quadro multipartidário partidos queiram ter candidatos”.

TIRA-TEIMA COM LULA
“O Brasil é um país continental, com realidades completamente diferentes (entre as regiões). Existem vários Brasis. Estamos preparados para enfrentar o candidato mais forte do PT, que é o Lula. Já o fiz em 2006, ganhei em 11 estados, mas as circunstâncias lá eram diferentes. É até bom ter um tira-teima”.

TEMER NA DISPUTA
“O presidente (Michel Temer) tem direito de ser reeleito. Mas há uma dificuldade: ele não foi eleito, é diferente. Eu fui vice e assumi o governo de São Paulo, não houve impeachment. Mário Covas, à época, era o governador. Por causa da doença, ele morreu. Foi totalmente diferente de quando eu fui eleito. O voto faz falta no regime democrático. Quem ganhar a eleição vai ter a força de mais de 60, 70 milhões de votos”.

DISCURSO DE AJUSTE GANHA ELEIÇÃO?
“Um dia desses fui numa cidade e vi escrito em um muro: “Chega de fatos, queremos promessas”. A população prefere o ‘não’ explicado do que o ‘sim’ que não pode ser cumprido. Ou nós vamos mudar a cultura política, ou não vai ter solução. Precisamos mudar isso. Política é confiança, tem que falar a verdade para as pessoas”.

PESQUISAS ELEITORAIS
“Pesquisa eleitoral é interessante. Tem gente que acredita nisso. A 40 dias da eleição (para a prefeitura de São Paulo, em 2016), Celso Russomanno tinha 30 e tantos por cento; a Marta (Suplicy) tinha 20 e tantos por cento. O prefeito (Fernando) Haddad tinha 11%, e o João Doria, 5%. O Doria ganhou no primeiro turno, e o segundo colocado foi o que estava em terceiro (Haddad). O primeiro (Russomanno) e o segundo (Marta) sequer foram para o segundo turno. Na eleição para a prefeitura de São Paulo, em 2012, o PSDB, muito impressionado com pesquisa, escolheu o (José) Serra, que tinha 30 e tantos por cento na pesquisa. O Haddad tinha 4% e ganhou a eleição”.

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