quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Ricardo Noblat - Bolsonaro, o colecionador de cabeças

- Blog do Noblat | Veja

Paulo Guedes é obrigado a entregar mais uma para manter a sua

Se ontem, por volta do meio-dia como contou o general Hamilton Mourão, presidente da República em exercício, o ministro Paulo Guedes, da Economia, estava angustiado com a possibilidade de Marcos Cintra, Secretário da Receita Federal, ser demitido, é porque até àquela hora ele não desejava livrar-se dele.

Livrou-se depois que o presidente Jair Bolsonaro, do hospital onde está internado, mandou que ele o fizesse. Ou obedecia à ordem ou se arriscaria a ser demitido também. Guedes viu-se na mesma situação que enfrentara quando Bolsonaro ordenou que cortasse a cabeça de Joaquim Levy, então presidente do BNDES.

Para não perder a sua, cortou a de Levy como agora a cabeça de Cintra, que chamara para fazer parte de sua equipe justamente porque sempre defendeu a recriação da CPMF, imposto sobre as transações financeiras. Durante a campanha eleitoral do ano passado, Guedes também defendera a volta da CPMF.

Desautorizado por Bolsonaro candidato, recuou. Uma vez que ele se elegeu, retomou a ideia. E no início desta semana, em entrevista ao jornal Valor, chegou a expô-la adiantando alguns detalhes. A repercussão negativa tomou conta das redes sociais. Devotos de Bolsonaro a criticaram. A sorte de Cintra acabou selada.

Segundo insinuou Mourão, a discussão em torno de um imposto que Bolsonaro sempre fora contra tornou-se pública antes do tempo. Do contrário poderia até ter prosperado. Ultimamente, Bolsonaro se mostrara menos resistente à proposta. Só pedia que se providenciassem meios e modos de torná-la mais palatável.

Guedes jamais será um ministro como outro qualquer. Seus domínios são amplos e a economia é a área mais sensível de qualquer governo, tanto mais quando patina. Mas Guedes já gastou parte do cacife que tinha ao desembarcar em Brasília pela primeira vez na condição de Posto Ipiranga do governo do capitão.

Achava-se capaz de dar uma prensa no Congresso para forçá-lo a atender aos seus desejos – não deu certo. Ou capaz de zerar o déficit fiscal em um ano – não zerou e não irá zerar até onde a vista alcança. Imaginava que Bolsonaro o deixaria tocar o barco ao seu ritmo – esqueceu que o dono da caneta é ele.

Vez por outra, fala que se lhe der na telha largará o governo e, aí, sim, o país ficará ingovernável. Pode ser jogada esperta para remover obstáculos ou manifestação de soberba de um economista que nunca foi reverenciado por seus pares. Mas deve-se prestar atenção ao que ele tem dito até mesmo com certa frequência.

Bolsonaro foi refém de dois ministros poderosos – Guedes e Sérgio Moro, da Justiça. Os papéis se inverteram.

Súplica dos devotos do capitão
É visível nas redes sociais, com mais destaque no Twitter, o retraimento dos bolsonaristas em defender o Mito e o seu governo. E é compreensível que assim seja.


Por exemplo: Bolsonaro se elegeu prometendo que o combate à corrupção seria uma das marcas do seu mandato. Mas aí, o filho Flávio meteu-se em rolos e ele foi obrigado a recuar.

A Sérgio Moro seriam dadas todas as condições para que fosse à caça de bandidos, ex-fardados ou não. Mas, aí como seria no caso dos milicianos do Rio? Melhor deixá-los sossegados.

Paulo “Posto Ipiranga” Guedes tocaria a economia ao seu modo, até porque quem entende do assunto é ele, o capitão jamais entendeu e se orgulha disso. O “Posto” perdeu parte de suas luzes.

Sim, mas a pauta de assuntos sobre costumes, aquela que mais interessa à ala radical dos devotos, essa avançaria no Congresso por cima de pau e pedra. Não avançou e nem avançará.

Os bolsonaristas estão atônitos. E retrancados. Pedem para que ao menos sejam alertados com antecedência para não entrar em bola dividida. Funcionava assim, deixou de funcionar.

Reforma da Previdência pode empacar

Alerta
Rodrigo Maia (DEM-RJ), o todo poderoso presidente da Câmara, mandou avisar aos senadores: que não venham com a história de emendas para suprimir determinados artigos do projeto de reforma da Previdência porque ele simplesmente não concordará com isso.

Se suprimirem qualquer coisa, o projeto terá de voltar à Câmara para ser outra vez votado pelos deputados. E aí, ele, Rodrigo, não garante que a votação será tão rápida como o governo e o mercado financeiro desejam. E menos ainda que tudo correrá muito bem.

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