Blog do Noblat | Veja
À espera que o tempo se esgote
Durou menos tempo do que uma rosa cortada a nova tentativa do presidente Jair Bolsonaro de fazer os militares cerrarem fileira em torno do seu governo. Pela segunda vez em menos de um mês, o ministro Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, divulgou uma nota onde diz que as “Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”.
Sob o título “As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional”, a nota acrescenta que “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do país”. Se Bolsonaro, pois, imagina usá-las para atropelar a Constituição, vá logo tirando seu cavalinho da chuva.
O aviso vale não só para Bolsonaro e demais interessados em romper com as regras do jogo democrático. Vale também para acalmar os ânimos dos que temem, e com razão, que um presidente da República cada vez mais enfraquecido, apoiado por não mais do que um terço da população, possa em um ato de desespero atrair para seu lado antigos companheiros de farda.
A ratatuia que sai às ruas a pedir a volta da ditadura militar é uma fração da metade ou de menos da metade desse um terço. Por barulhenta e disposta à violência, dá impressão de ser maior e mais perigosa do que é. Bolsonaro a cultiva porque pensa como ela, deseja o que ela quer, e dela precisa para causar medo aos seus desafetos – que são todos os que se opõem às suas vontades.
Uma coisa são os generais de pijama, empregados ou não no governo, adeptos dos jogos de cartas, de damas e de dominó e que apoiam a pretensão de Bolsonaro de aplicar um golpe de Estado. Bolsonaro é um Napoleão que foi tirado do hospício com o propósito de varrer a esquerda do poder, e varreu. Antes de retornar à sua insignificância, ainda dará trabalho. Fazer o quê?
Aturá-lo até onde for possível. Ou abreviar seu mandato por meio de um processo de impeachment. É o que prevê a Constituição. Mas, enquanto isso, limites lhe estão sendo impostos. Ontem, ele sentiu-se obrigado a telefonar para o comandante do Exército para negar a veracidade de notícias que deram conta do seu desejo em substitui-lo. Por conveniente, a mentira de Bolsonaro foi aceita.
À falta de maior apoio popular e partidário para aprovar no Congresso tudo o que quer, a Bolsonaro só resta viver de espasmos autoritários até que seu tempo se esgote. Que assim seja.
O primeiro ato do novo diretor da Polícia Federal dá razão a Moro
Aperta-se o cerco a Bolsonaro
O que disse Sérgio Moro ao despedir-se do cargo de ministro da Justiça e disparar graves acusações contra o presidente Jair Bolsonaro? Disse que ele lhe cobrara diversas vezes o afastamento do diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Marcelo Aleixo, e dos superintendentes no Rio e em Pernambuco. As vagas seriam preenchidas com gente da confiança dele.
O que fez o novo diretor-geral, o delegado Rolando Souza, mal foi nomeado e empossado por Bolsonaro em cerimônia assistida só por meia dúzia de convidados no Palácio do Planalto? Convocou o superintendente da Polícia Federal no Rio para trabalhar com ele em Brasília. Souza foi o braço direito do delegado Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)
Ramagem você lembra quem é. Foi o delegado que cuidou da segurança de Bolsonaro depois da facada em Juiz de Fora. Caiu nas graças da família Bolsonaro. Foi promovido a diretor-geral da ABIN. E, na semana passada, quando o presidente o nomeou para comandar a Polícia Federal, foi proibido de tomar posse pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O primeiro ato do substituto de Ramagem na direção-geral da Polícia Federal serviu para confirmar o que disse Moro à saída do governo. E o que repetiu em depoimento de oito horas prestado em Curitiba a agentes federais. Souza pretende trocar outros superintendentes nos Estados. Um deles certamente será o de Pernambuco que teve sua cabeça pedida a Moro por Bolsonaro.
Tão logo conheceu em linhas gerais o depoimento de Moro, Bolsonaro teve mais um ataque de nervos, desses que o leva a dizer palavrões em voz alta dentro do seu gabinete. O presidente está vendo o cerco se apertar ao seu redor. Moro citou vários dos seus ministros como testemunhas das pressões que recebeu para que tornasse a Polícia Federal permeável às vontades de Bolsonaro.
Augusto Aras, Procurador-Geral da República, requisitou a gravação da reunião ministerial onde Moro foi ameaçado de demissão caso não cumprisse a ordem de Bolsonaro de dar um novo rumo à Polícia Federal. Bolsonaro queria ser posto a par das investigações que ela fizesse. E receber relatórios a respeito. A Polícia Federal não é um órgão de governo, mas de Estado.
O inquérito aberto por Aras para apurar as denúncias de Moro é presidido pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. E Celso tem pressa. Ele se aposentará em novembro próximo. E seu substituto será indicado por Bolsonaro. Celso é o maior crítico do presidente entre seus colegas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário