Agressor, que foi ao local dizendo 'aqui é Bolsonaro', também foi baleado
Victoria Azevedo, Mauren Luc / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO e CURITIBA - Um policial penal
federal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros o guarda
municipal e militante petista Marcelo Aloizio de Arruda, na noite de sábado
(9), em Foz do Iguaçu (PR).
Durante a ação, o petista reagiu e efetuou
disparos contra seu agressor, identificado como Jorge José da Rocha Guaranho.
A Polícia Civil do Paraná a princípio disse
que Guaranho também tinha morrido, mas a
informação depois foi corrigida. Ele permanece internado.
O ataque
ocorreu durante o aniversário de 50 anos de Marcelo de Arruda,
comemorado com uma festa temática do PT.
Segundo os relatos à polícia, Guaranho
passou de carro em frente ao salão de festas dizendo "Aqui é
Bolsonaro" e "Lula ladrão", além de proferir xingamentos. Ele
saiu após uma rápida discussão e disse que retornaria.
De acordo com as testemunhas, Arruda então
foi ao seu carro e pegou uma arma para se defender.
Guaranho de fato retornou, invadiu o salão de festas e atirou em Arruda. O petista, já ferido no chão, também baleou o bolsonarista. Uma câmera de segurança registrou o crime.
O caso eleva a apreensão
sobre violência política em uma pré-campanha eleitoral que é
marcada por ameaças e
ataques físicos.
A delegada responsável pelo caso, Iane
Cardoso, afirma que a hipótese de motivação política para o crime contra o
petista é investigada. Ela diz que ainda está sendo apurada se a razão foram
divergências políticas.
"A priori, é o que estão divulgando.
Mas a gente está investigando, tentando extrair a verdadeira motivação. A
polícia tem que averiguar", disse.
A delegada afirmou que a polícia também
investiga se Arruda e Guaranho já se conheciam. "A informação que temos a
priori deu a entender que eles se conheciam, mas não há histórico que tenha
havido uma divergência ou briga anterior".
Segundo ela, a esposa de Guaranho afirmou que ele é diretor do local onde ocorreu a festa. "Por isso a gente deduz que talvez eles tivessem um conhecimento."
Arruda era tesoureiro do PT. No partido
havia mais de dez anos, ele concorreu a vereador e a vice-prefeito pela sigla
em eleições municipais recentes.
O Partido dos Trabalhadores divulgou nota lamentando a
morte e afirmando que ela se deu por crime de ódio por um bolsonarista.
Segundo o texto, Arruda comemorava seu
aniversário de 50 anos com familiares e amigos em uma festa na sede da
Associação Esportiva Saúde Física Itaipu e foi vítima da "intolerância, do
ódio e da violência política".
Afirma ainda que o bolsonarista, antes de
cometer o crime, teria "interrompido a festa e ameaçado de armas na mão a
todos os presentes".
O PT, no comunicado sobre o caso, disse que
as últimas imagens da vida do filiado, gravadas no momento em que os convidados
cantavam parabéns, "registram sua alegria de viver, seu entusiasmo com a
militância, seu compromisso de vida com o PT e o presidente Lula".
A presidente nacional do partido, deputada
federal Gleisi Hoffmann (PR), divulgou nota e fotografias do militante em sua
festa de aniversário em seu perfil no Twitter. Ele aparece posando ao lado de
decorações temáticas em homenagem ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao partido.
"Uma tragédia fruto da intolerância
dessa turma", escreveu Gleisi.
O ex-presidente Lula também comentou o caso
em suas redes sociais e afirmou que Arruda "evitou uma tragédia
maior".
Na ocasião, antes de a Polícia Civil recuar
e afirmar que o policial penal está vivo, Lula também pediu "compreensão e
solidariedade" aos familiares Guaranho, dizendo que "perderam um pai
e um marido para um discurso de ódio estimulado por um presidente
irresponsável". "Precisamos de democracia, diálogo, tolerância e
paz."
Ainda na nota, o PT afirma que, desde o
começo do ano, vem alertando a sociedade e as autoridades para a escalada de
perseguição a parlamentares, filiados, militantes de movimentos sociais e de
outros partidos e o crescimento da violência política no país.
No texto, o partido cobra de autoridades de
segurança pública "medidas efetivas de prevenção e combate à violência
política" e alerta o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal
Federal para que "coíbam firmemente toda e qualquer situação que alimente
um clima de disputa violenta fora dos marcos da democracia e da
civilidade".
A Prefeitura de Foz do Iguaçu emitiu nota
de pesar pela morte de Arruda. Ele era da primeira turma da Guarda Municipal da
cidade, onde atuava havia 28 anos.
À Folha o prefeito Chico Brasileiro disse que a
vítima sempre teve uma conduta de respeito ao trabalho. "O que mais nos
chama atenção é uma lição que traz uma reflexão a todas as autoridades e à
sociedade sobre a intolerância". Segundo ele, deve haver um pacto contra a
intolerância que afeta o país.
Arruda também era diretor da executiva do
Sindicato dos Servidores Municipais de Foz do Iguaçu (Sismufi).
Outros episódios de violência contra o PT
têm sido registrados nos últimos dias. Na quinta-feira (7), um evento com
apoiadores do petista na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo de um
artefato explosivo.
A bomba caseira, aparentemente feita de
garrafa PET, foi lançada do lado de fora da área isolada em frente ao palanque,
antes da chegada de Lula.
No último dia 15, apoiadores do
ex-presidente foram alvo de
drone com um liquido antes de um ato com a presença de Lula em
Uberlândia, Minas Gerais.
Como a Folha mostrou, a Polícia Federal decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança do ex-presidente Lula.
Um comentário:
Está aí a prova viva de que a direita é mais violenta que a esquerda.Pena que o petista,por ser guarda municipal,também estava armado.
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