segunda-feira, 11 de julho de 2022

Carlos Pereira: Delírios autoritários

O Estado de S. Paulo

Bolsonarismo, assim como Lulismo, é um conceito fast-food e tende a desaparecer se não institucionalizado

Com a derrota eleitoral cada vez mais iminente do presidente Bolsonaro à reeleição e com o fracasso de seu suposto projeto autoritário, se espraiam agora receios ou quase delírios de natureza persecutória de que o bolsonarismo vai sobreviver, mesmo perdendo.

Como provavelmente Bolsonaro não terá um segundo mandato consecutivo, a aposta agora é que ele seria capaz de manter digitalmente engajado seu eleitorado mais fiel de perfil conservador, solapando assim o mandato de seu sucessor e preparando o terreno para o seu retorno triunfal em 2026. E aí sim, a democracia brasileira, com certeza, estaria sentenciada à morte.

É como se a cada novo dia em que a democracia brasileira se mantivesse firme e estável, houvesse a necessidade de se criar fantasmas do autoritarismo para dar sentido aos falsos argumentos de fragilidade da democracia e de suas instituições.

Certamente que preferências conservadoras vão continuar existindo na sociedade. Mas até que ponto conservadores vão apostar em Bolsonaro como único líder capaz de defendê-las, especialmente se perder as eleições? Sem institucionalização, movimentos políticos evaporam e, quando institucionalizados, são forçados a se submeter às regras do jogo.

A subordinação política de Bolsonaro ao jogo institucionalizado do presidencialismo multipartidário, forçando-o a trair de forma escandalosa seus eleitores ao montar uma coalizão com os partidos do Centrão, foi uma clara saída institucional para a sobrevivência de um governo em situação de extrema vulnerabilidade política.

Movimentos semelhantes de busca de apoio político de partidos ideologicamente amorfos, como os do Centrão, já foram amplamente usados por praticamente todos os governos anteriores. A utilização de moedas de troca políticas e/ou orçamentárias na montagem de maiorias legislativas não é mais suja, menos legítima e/ou menos transparente no governo de Bolsonaro do que, por exemplo, nos governos petistas de Lula ou de Dilma.

Presidentes, inclusive os populistas, precisam de partidos pivô de perfil não ideológico para governar. Tais partidos evitam que mudanças extremas sejam aprovadas, constrangendo governos de coalizão a negociar saídas medianas e, consequentemente, proporcionando estabilidade à democracia.

Se Bolsonaro seguir um caminho não institucional após sua provável derrota, tende a ser esquecido e substituído pelo próximo conservador de plantão, que se for inteligente, seguirá as regras do jogo do presidencialismo multipartidário desde o início de seu governo.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Bolsonaro não é conservador e sim reacionário,e FHC também comprou o congresso para aprovar o instituto da reeleição,carma nosso de todas as horas.