Folha de S. Paulo
Método global se apoiava em hipóteses que
foram adotadas antes de ser testadas
Ao comentar o livro de John McWhorter sobre
o racismo, duas semanas
atrás, afirmei que o autor defendia o uso do método fônico na
alfabetização como uma das principais armas de combate à desigualdade. Um
leitor atento me perguntou como isso seria possível. É uma história
interessante, que combina ciência, política, teimosia e coragem.
Na segunda metade do século 20, educadores lançaram a ideia de que a escrita deveria ser ensinada de forma natural, mais ou menos como se aprende a falar. A criança deveria ser lançada no universo das letras e encontraria seu próprio caminho, de modo criativo e prazeroso. Esse sistema, conhecido como "whole language", ou método global, virou moda nos anos 80 e 90. Mais do que isso, ele se tornou um marcador ideológico. Progressistas abraçavam o método global, enquanto conservadores insistiriam nas cartilhas do tipo "vovô viu a uva".
O problema é que o método global se
apoiava em hipóteses que foram adotadas antes de ser testadas. Adultos de fato
leem palavras inteiras, sem necessidade de decompor o som. Só que isso só ocorre
com anos e anos de prática. Crianças, especialmente as de famílias pobres, nas
quais os negros estão sobrerrepresentados, aprendem muito melhor quando o
professor ensina explicitamente que o alfabeto é um código de sons. E crianças
que ficam muito para trás em leitura dificilmente se tornam bons alunos com
chances de ir para a universidade.
Os trabalhos científicos que compararam os
métodos foram quase unânimes em mostrar isso, mas, como a alfabetização havia
sido ideologizada, tornou-se politicamente custoso dobrar-se às evidências.
Muitas crianças tiveram seu aprendizado seriamente prejudicado pela teimosia.
Aos poucos, porém, o método fônico vai se impondo. Há pouco, Lucy Calkins (Columbia), por décadas uma das campeãs do método global, corajosamente admitiu que estava errada e é necessário ensinar os sons.
Um comentário:
Ideologizaram tudo,desgraçadamente.
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