sábado, 16 de julho de 2022

Ascânio Seleme - Digam não ao general

O Globo

Proposta do ministro da Defesa de fazer uma urna paralela para aleatórios votos em papel não é só absurda, ela é burra

Sem qualquer legitimidade política ou institucional, o general Paulo Sérgio Nogueira deve ouvir um “alto não” às suas ideias eleitorais mirabolantes, às suas pretensões esquistoides e claramente golpistas. A proposta de fazer uma urna paralela para aleatórios votos em papel não é só absurda, ela é burra. Aliás, são tolas, estúpidas e inócuas quase todas as ideias emanadas do Ministério da Defesa desde que ele foi equivocadamente convidado a participar da comissão de transparência do TSE. Apenas uma meia dúzia de considerações feitas pelos representantes de Paulo Sérgio na comissão foram consideradas, nenhuma dizia respeito à segurança das urnas eletrônicas.

Não é por outra razão que muitos generais da ativa não escondem o desapontamento com o ministro da Defesa, como revelou ontem a repórter Bela Megale aqui no GLOBO. Além da sabujice explícita (Paulo Sérgio virou linha acessória de Bolsonaro no seu ataque ao processo eleitoral), as ideias de jerico produzidas em escala industrial no seu gabinete constrangem os comandantes militares. O general reformado, que comanda a Defesa na condição de um civil, deve ser imediatamente recolocado no seu lugar, longe do debate eleitoral, longe das urnas eletrônicas, longe dos palanques. Se quiser fazer política, que renuncie ao cargo executivo que tem de maneira provisória.

É preciso dizer não a Paulo Sérgio. Mais do que isso, é necessário isolar o ministro. O Congresso deve parar de convidá-lo a discutir o processo eleitoral, o TSE deve mandar um ofício ao seu gabinete informando que está satisfeito com a colaboração e que sua participação na comissão está definitivamente suspensa. Claro, o tribunal pode ser educado com Paulo Sérgio, mas não precisa. O ministro tem sido abusado, agressivo, tem adotado postura beligerante e poderia ser tratado da mesma maneira. O não que ele necessita ouvir pode ser dito de forma dura e firme, posto que legal.

Numa audiência na Comissão de Fiscalização do Senado, na quinta-feira, um coronel levado a tiracolo pelo ministro disse que um “código malicioso” pode ser inserido nas urnas dentro do TSE. A fala, além de servir ao mesmo interesse obscuro de Bolsonaro e Paulo Sérgio, ofende a Corte e seus ministros por sugerir que pode haver manipulação deliberada do código fonte. Mais do que mal-educada, a sugestão do coronel cujo nome não merece ser mencionado, é tão burra quanto a ideia do ministro de fazer a urna paralela para voto aleatório de papel. Burra e ignorante, que são duas coisas distintas. O código fonte passa por fiscalizações desde outubro do ano passado, depois disso é lacrado e trancado em cofre do TSE em cerimônia aberta a todos, inclusive aos partidos políticos.

Malicioso é o jogo que o ministro da Defesa tenta fazer. Suas propostas obviamente serão recusadas, mas um grande estrago já foi produzido. Basta entrar nas redes bolsonaristas para ver suas falas obtusas e mentirosas disseminadas aos quatro cantos como verdadeiras. Não vai demorar para pipocarem fake news sobre a manipulação do código dentro do TSE, certamente sendo feita sorrateiramente, na calada da noite, pelos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Claro que isso dará em nada mais uma vez, mas causa um enorme mal-estar e fadiga à democracia.

A Paulo Sergio não deve ser permitido que se movimente na direção da disrupção institucional nem um centímetro a mais. Ministro da Defesa deve sempre proteger a nação, nunca sobressaltá-la. Jamais assaltá-la. É preciso, portanto, dizer não ao general. Um não categórico. É urgente recolocar o ministro no quadrado que lhe pertence. Se ele ficar insatisfeito com o rechaço, dane-se. Que chame as tropas, que alinhe os tanques, que marche contra o TSE se tiver força e for ouvido. O que não se pode é permitir que um homem só se julgue capaz de interferir no processo eleitoral brasileiro. Digam não ao general. Já!

Polícia, polícia

Incrível a rapidez da polícia de Foz do Iguaçu. Em cinco dias descobriu que o responsável pelo assassinato do petista Marcelo Arruda foi o petista Marcelo Arruda, porque jogou um punhado de terra no assassino. Enquanto isso, no Rio, há quatro anos e meio não se sabe por que Marielle Franco foi morta e nem quem foi o mandante de seu assassinato. A polícia falha lá como erra aqui.

Segurança

A Polícia Federal acionou os estados para reforçar as seguranças dos candidatos a presidente. Lula já está usando colete à prova de bala nas manifestações populares que participa, em ambiente aberto ou fechado. Para quem já trabalhou em outras campanhas, esta não é uma novidade produzida pela onda de ódio político em vigor desde a posse de Jair Bolsonaro. Segundo antigos assessores, o ex-presidente Fernando Henrique usou colete em todas as suas aparições públicas nas eleições de 1994 e 1998.

Voto sem vergonha

José Roberto Arruda está de volta. Pode ser reabilitado pela Justiça Eleitoral e então concorrer a um cargo eletivo no Distrito Federal. Arruda foi senador por seis anos, de 1995 a 2001. Não concluiu o mandato porque renunciou para não ser cassado no episódio da quebra do sigilo do painel de votação do Senado, junto com o falecido Antônio Carlos Magalhães. Depois de se recolocar, foi eleito governador em 2002. Também não conseguiu cumprir o mandato. Foi flagrado em vídeo pegando dinheiro da mão de um picareta local e acabou cassado e preso. Se conseguir mais um mandato público, teremos que discutir o eleitor do DF, não o eleito.

Precisa mais?

Sério, senhores membros do TRE da Paraíba, precisa de mais alguma coisa para cassar o registro do Queiroguinha, filho do ministro da Saúde, que tem feito tráfico de influência explícito na sua pré-campanha no estado?

Mais, mais, mais

O Brasil tem a cada dia mais assassinatos, mais feminicídios, mais estupros, mais assédios sexuais, mais assédios morais, mais crimes de racismo, mais crimes homofóbicos, mais violência, enfim, tanto nos espaços públicos quanto nos privados. No mundo inteiro as sociedades se modernizam e as taxas de criminalidade caem. No Brasil, disparam. Onde será mesmo que erramos?

Menos, menos, menos

Caiu em 70% o volume de vendas da farinha produzida por quilombolas de Campinho, em Paraty. O número pode significar pouca coisa ou mesmo nada para quem está lendo esta nota. É apenas mais um sinal de como a renda está em franca queda. Mas é fato que por onde quer que se ande percebe-se que os que mais sofrem são os pequenos, os mais pobres.

Pinga ni mim

Lula ganhou de um amigo fluminense três caixas de seis garrafas cada da cachaça Da Quinta, uma das mais admiradas do Estado do Rio. Esta aguardente, produzida desde 1923 na cidade de Carmo, é a mais premiada do interior do estado O presente foi entregue no início deste ano. Semana passada Lula ligou ao amigo pedindo mais. Claro que o ex-presidente não bebeu tudo, mas são poucos que sabem agradar um interlocutor como ele.

Fila de espera

Mais de 66 mil gestores públicos respondem na Justiça a ações de valores de até R$ 5 mil. O número permite duas constatações. Uma: há muitos ladrões de galinha espalhados nas administrações da União, de estados e municípios. Outra: há excesso de rigor no controle de pequenos gastos, o que acaba entupindo os tribunais de porcaria.

André Ceciliano

PING- Por que você é petista?

PONG- Porque gosto do Lula. Trabalho desde os nove anos. Meus amigos e eu queríamos mudar o mundo. Ouvimos muito Paulinho Pedra Azul, Belchior e Xangai.

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

''5 mil reais'' não é ''porcaria''.

Anônimo disse...

Será que o Bolsonaro já ganhou algum presente? Nem para isso ele presta