Folha de S. Paulo
Fenômeno se refere a militar japonês que
negou-se a reconhecer o fim da 2ª Guerra
O senso comum pode estar sendo exposto à
"síndrome de Onoda". É um fenômeno esdrúxulo, semelhante ao "gaslighting", por
sinal eleita a palavra inglesa do ano. Remonta a 1945, quando Onoda
Hiroo, tenente do Exército Imperial japonês, negou-se a reconhecer o fim da Grande
Guerra. Não foi caso único. Em São Paulo, também a "Shindo
Renmei", uma organização terrorista, não admitiu a derrota do Japão.
Onoda comandava um pelotão na ilha de Lubang, nas Filipinas, com a missão de
assegurar terreno para o desembarque de tropas. Escondeu-se trinta anos na
selva, rejeitando evidências e sobrevivendo graças ao roubo de arroz, bananas e
vacas. Odiado pelos camponeses, matou trinta dos que tentaram combatê-lo. A
Shindo Renmei assassinou 23 e feriu 147 compatriotas da colônia
nipo-brasileira, aos quais chamava de "corações
sujos", por não compactuarem com a mentira delirante.
A "síndrome de Onoda" é uma hipótese viável para a atual mobilização golpista em frente a quartéis. Por um lado, há uma alcateia de financiadores, espécie sorrateira de lobo terrorista, acoitada nos desvãos retrógrados do agronegócio, no comércio atrasado e em obscuros escritórios da corrupção brasiliense. De outro, o rebanho em que ecoa a mentira lupina da fraude nas urnas. São ovelhas balindo estupidamente em aquiescência.
O que há de comum à maioria dos afetados é
a materialização de uma irracional obediência militarista. Onoda tinha feito um
curso de comando cujo protocolo exigia assimilação total da doutrina
imperialista japonesa. Ele falaria depois em "ideias fixas que nos faziam
incapazes de aceitar qualquer coisa que não se encaixasse nelas". A Shindo
Renmei tinha um fundo alucinatório semelhante, que culminava no fanatismo
homicida. Na prática, uma iconografia ativa do ódio, de fácil propagação em
comunidades suscetíveis ao extremismo, antes como hoje, com trágica incidência
entre jovens.
Entretanto, fanáticos prosperam também na hipocrisia: eles podem fingir que não
veem ou que não sabem. Onoda via passar aviões americanos, ouvia rádio e
mensagens de compatriotas que tentavam fazê-lo regressar, mas permanecia
inabalável. Os dirigentes da Shindo Renmei negavam-se a aceitar informações
factuais.
Sob o mesmo manto de acomodação fascista, a chusma envolvida na atual
conspirata antidemocrática adequa-se hipocritamente à síndrome negacionista.
Aliás, ao ser resgatado da selva e anistiado, o já paisano Onoda Hiroo passou a
viver como fazendeiro no Mato Grosso do Sul, cultuado como herói. Morto em
2014, o espírito parece continuar vagando, mas é outro o tempo. Nos EUA, esse
"terrorismo do não" tem dado cadeia. Entre nós, as leis apontam na
mesma direção.
*Sociólogo, professor emérito da UFRJ,
autor, entre outras obras, de "A Sociedade Incivil" e "Pensar
Nagô".
2 comentários:
Os onodas brasileiros são só estúpidos mesmo; burros.
Um viveu numa selva, isolado e sem contato com seu líder; outros têm TV, rádio, Internet, jornais, revistas... banheiros químicos, comida farta, carro, sabe q o líder bananinha tá se esbaldando no Catar e o malacraia num resort de luxo, se separa da mulher... É burrice, sim. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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