Folha de S. Paulo
Ex-presidente propôs o golpe sabendo que
estava propondo uma guerra civil
Se há um sujeito burro o suficiente para
morrer na cadeia por Bolsonaro, ele não deve ter sido primeiro colocado em sua
turma no Exército.
Por esse motivo, o tenente-coronel Mauro Cid resolveu
entregar Jair para a polícia: não quis ser mártir em uma religião cujo messias
já planejava se aposentar com mesada do Valdemar Costa Neto e um pé de meia
construído com muamba.
Segundo trechos da delação de Cid já obtidos
pela imprensa, o então presidente Jair
Bolsonaro convocou uma reunião com os chefes das Forças
Armadas após ter sido derrotado na eleição presidencial de 2022.
Trazia uma minuta de declaração de golpe que lhe teria sido entregue pelo assessor Filipe Martins. Martins é um seguidor de Olavo de Carvalho, guru do Bolsonarismo que faleceu, com imperdoável atraso, em 2022.
Segundo Cid, os chefes do Exército e da
Aeronáutica não aceitaram a proposta de Jair. Só o comandante da Marinha, Almir
Garnier dos Santos, teria colocado suas tropas à disposição para o golpe.
O relato de Cid confirma reportagem de Ana
Clara Costa, publicada na revista "piauí" de junho de 2023, que
contou como o almirante, "plantonista do golpe", havia sido o único
chefe das Forças a topar a aventura golpista proposta por Bolsonaro em 2022.
Se Cid estiver falando a verdade, o almirante
Garnier é um desertor que deve receber o tratamento reservado aos desertores
pelos códigos militares e pela tradição marcial. Bem disse Ulysses Guimarães:
traidor da Constituição é traidor da pátria.
Se Cid estiver falando a verdade, Garnier é,
antes de tudo, um ladrão: pretendia roubar as armas da Marinha, que havia
jurado honrar, para impor aos brasileiros a ditadura de bandidos a quem os eleitores
haviam acabado de negar a reeleição.
Se Garnier tentasse a mesma gracinha,
digamos, nos Estados Unidos, amanheceria no dia seguinte lavando as cuecas do
chefe da Al Qaeda em Guantánamo.
Mas se esse é o julgamento de Garnier, o que
dizer de Bolsonaro, autor do convite que Garnier teria aceitado?
Na reunião descrita por Cid, este indivíduo,
Jair Messias Bolsonaro, ocupando o topo do Poder Executivo, propôs abertamente,
a homens que comandavam todos os militares brasileiros, que destruíssem a
democracia brasileira para lhe garantir a boquinha.
Propôs isso logo após a maioria do eleitorado
ter deixado claro que não o apoiava. Propôs o golpe, portanto, sabendo que
também estava propondo uma guerra civil.
Quando, nas semanas seguintes, os golpistas
acamparam em frente aos quartéis e, no 8 de janeiro, destruíram as sedes dos
Poderes da República, certamente sabiam o que Jair estava propondo e que havia
gente como Garnier aceitando.
Os acampamentos não foram desmontados antes,
afinal, porque estavam cheios de familiares de militares.
Os golpistas de 8 de janeiro só repetiram, em
praça pública, a oferta que Bolsonaro fez aos militares em reunião fechada:
roubem as armas da República, destruam a democracia, nos arrumem uma boquinha.
Depois do que Cid nos contou, é mais fácil
entender a coragem dos golpistas de 8 de janeiro. Enquanto quebravam os
prédios, olhavam para cima, na esperança de que um levante popular levasse mais
Garniers a se juntarem a Bolsonaro. Jair organizou o golpe por cima e
inspirou-o por baixo.
2 comentários:
Muito bom! Jair Bolsonaro é um CRIMINOSO, e foi apoiado por muitos militares golpistas e igualmente criminosos! CADEIA pra todos eles!
''Imperdoável atraso'',rs,muito bom!
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