quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Fernando Exman - Marinha e Secex de olho nas ações dos houthis

Valor Econômico

Para secretária de Comércio Exterior do Mdic, situação exige atenção, mas, neste momento, não é caso de alarme

A cena impressiona. Com uma câmera acoplada à própria cauda, um helicóptero camuflado em tons de deserto se aproxima de um navio e pousa sobre o convés. Seis homens armados com fuzis de assalto desembarcam e, em formação militar, avançam sobre o piso branco. Passo a passo, vão conquistando o barco que, consideram, tem conexões com Israel e, por isso, não poderia trafegar pelo Mar Vermelho.

Um ponto crítico é o Estreito de Bab-el-Mandeb, passagem de 32 quilômetros de largura na comunicação com o Oceano Índico. Em árabe, o nome do acidente geográfico significa “Portão das Lágrimas”, e não por acaso: é uma referência aos perigos para quem tenta por lá trafegar, como correntes marítimas, ventos, conflitos e piratas. Neste caso, contudo, está em curso mais um ataque dos houthis, grupo rebelde do Iêmen apoiado pelo Irã.

O grupo avança. O homem mais atrás também registra tudo por meio de uma câmera corporal. Em pouco tempo, eles chegam à ponte de comando da embarcação, rendem os tripulantes e consumam o sequestro do navio.

O material foi veiculado nas redes sociais e, depois, transmitido pelos principais veículos da imprensa internacional. Justificável: as ações do grupo, além de terem gerado uma segunda frente na guerra no Oriente Médio, têm provocado o estrangulamento de uma das principais rotas do comércio global.

No Brasil, a situação também é acompanhada de perto por autoridades federais.

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), trabalha para identificar possíveis impactos por meio da análise de dados e conversas com os setores produtivos. Para ela, a situação exige atenção, mas, neste momento, não é caso de alarme.

A instabilidade geopolítica reduz a previsibilidade, diz ela, e o potencial acirramento do conflito é um risco para a economia global em um ano em que o crescimento projetado já não era dos melhores. Há preocupação com os custos associados à adoção de rotas alternativas. Um impacto possível se daria na inflação global, devido à redução de disponibilidade de contêineres e ao aumento da demanda por combustíveis.

Nesse contexto, observa-se os efeitos colaterais na política monetária nos Estados Unidos e, consequentemente, eventual influência no ritmo de cortes de juros no resto do mundo e, claro, no Brasil.

“O desvio de rota está acontecendo”, comenta, citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI): o número médio de navios que passaram na última semana pelo estreito foi de 41, ante 67 em igual etapa do ano passado. E também há queda no trânsito do Canal de Suez. Nesse caso, de 73 para 54 no mesmo período.

Em contrapartida, vê-se um aumento do tráfego pelo Cabo da Boa Esperança, que contorna a África. Nos últimos sete dias, passaram pelo local, em média, 70 navios. Um ano antes, o número chegava a 40.

Falando especificamente do Brasil, os dados mostram que há sinais de efeitos negativos em portos nacionais, principalmente em relação ao fluxo de exportações. Mas relativamente baixos, se comparados a outros países. A percepção da Secex é que pode ocorrer um aumento do custo dos fretes, mas não necessariamente uma redução no volume de exportações. Os dados mais recentes da balança comercial ainda não captam danos provocados pela situação no Mar Vermelho.

O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, também monitora o assunto. Ele, aliás, acumula a função de autoridade marítima do Brasil. Cuida da regulamentação e do controle dos transportes aquaviários quanto à segurança da navegação e proteção do meio ambiente marinho, representando o Brasil em fóruns internacionais que tratam desses temas.

“Esse novo foco de confrontação produz impactos severos à economia mundial, porquanto afeta diretamente as linhas de comunicação marítimas (LCM), que são as principais vias de trocas comerciais entre as sociedades desde a Antiguidade”, diz ele. “Algumas companhias decidiram evitar o tráfego marítimo pela região, da ordem de 10% a 15% de todo o comércio mundial, passando a contornar o continente africano por oeste, retardando e encarecendo sobremaneira esses fluxos comerciais.”

Olsen lembra que, ao colocar esses ataques em perspectiva junto com questões que envolvem outros pontos de estrangulamento da navegação internacional, como a saturação do Canal do Panamá e a posição do Canal de Suez em região de frequentes beligerâncias, “toma-se consciência da criticidade das LCM para países de comércio internacional marítimo pujante, como é o caso do Brasil, que também tem, no mar, uma de suas fontes primárias de energia, o petróleo, além de uma imensidão de recursos vivos e minerais em suas águas jurisdicionais”.

Ele acrescenta: “São alertas eloquentes que não podem passar despercebidos. Ingênuos são os que supõem que o Brasil, país pacífico, possuidor de excelentes relações com seus vizinhos e reconhecido como um importante interlocutor para o incremento da paz e da segurança internacionais, estaria isento dessas ameaças”.

Olsen tem participado diretamente das articulações para a aprovação de uma proposta que eleva o orçamento anual das Forças Armadas e reserva 1% do Produto Interno Bruto (PIB) anual para essa finalidade. A área econômica resiste. Mas a PEC deve ser prioridade da Defesa.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

E o PT, por meio de seus blogues sujos, dando apoio a este braço armado terrorista do regime ditatorial do Irã que é o grupo terrorista Houthis.
■Se fosse um esquema do bolsonarismo o petismo estaria fazendo o contrário e denunciando os terroristas do Houthis junto com todos nós.

=》Ao denunciar junto com todos nós os esquemas autoritários a que o bolsonarismo se associa -Trump, Bukele, Duterte... , o PT se finge de democrático. Mas o PT faz um jogo associado à autoritários que é mais pesado ainda que o de Bolsonaro.