Folha de S. Paulo
Eleições nas capitais mostram o país
paralisado em 2022
Um candidato anticomunista, antivacina,
armamentista, a favor do voto impresso e do impeachment de ministros do
Supremo. Bolsonaro? Não, um genérico —o coronel aposentado da Polícia
Militar Ricardo Mello Araújo—, sugestão de Valdemar Costa Neto,
presidente do PL, para vice na chapa de reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.
A escolha, óbvio, tem o aval do ex-presidente
tornado inelegível e investigado por uma penca de crimes —da tentativa de golpe
a ter transformado a Abin num covil de arapongas trabalhando para ele e sua
família. Atual vendedor de cursinhos, o capitão responde até por importunar
baleias. Poderia haver aí um certo exagero, se não fosse mais um crime.
Perpetrado como estratégia para cutucar a sociedade e mobilizar seus
seguidores.
Quais as credenciais de Mello Araújo, ex-comandante da Rota, para administrar a maior cidade do Brasil? A carteirinha de bolsonarista fanático. Em 2021, convocou veteranos da PM para as manifestações golpistas no 7 de Setembro: "Não podemos permitir que o comunismo assuma nosso país". Quando presidiu a Ceagesp, em 2020, quis instalar um clube de tiro nas dependências da empresa.
Se tivesse um chip implantado no cérebro, não
seria melhor candidato para o PL. O coronel já defendeu que a abordagem
policial deve ser diferente em bairros da elite e na periferia. Todo mundo sabe
o que quer dizer essa diferença: salamaleques, rapapés e ademanes para os ricos
e porrada, cassetete e tiro nos pobres.
Bolsonaro e Valdemar apostam na nacionalização dos pleitos municipais, com foco na segurança. Do outro lado, Lula pensa igual. Não à toa, comprou o jogo ao aprovar o fundão recorde de R$ 4,9 bilhões. E se esforça para fazer alianças em São Paulo, Rio, Recife e Porto Alegre. Na visão do petista, Bolsonaro ainda é o contraponto, o adversário que deve ser batido de uma vez por todas. Quando sairemos dessa?
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