O Globo
Ministro fala sobre a negociação com o
Congresso, o foco no déficit zero, crescimento da economia e redução dos juros
aqui e nos EUA
O ministro Fernando
Haddad fechou ontem em conversa com o presidente Lula e
o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, a solução do problema da MP da reoneração, que tanta reação
causou. Será mandado para o Congresso nas próximas semanas um projeto de lei
com urgência tratando da reoneração exclusivamente. O programa do setor de
eventos, o Perse,
e a compensação tributária permanecerão na MP. Na semana que vem deve ser
anunciado o novo seguro para reduzir a volatilidade cambial, em mesa na qual
estarão o Banco Mundial e o BID, em São Paulo.
Entrevistei por quase uma hora o ministro da
Fazenda, a íntegra
está transcrita no blog, e foi ao ar ontem à noite na GloboNews.
Perguntei sobre a polêmica da semana, a fala do presidente Lula sobre Israel.
Ele disse que para ele é muito penoso falar sobre isso como filho de libanês
que deixou sua terra pelo crescimento da intolerância religiosa.
— O Padilha (Alexandre, ministro) usou uma expressão no Roda Viva (programa) que eu gostei. Ele falou: aquilo foi um grito de socorro. O presidente passou muitas horas ouvindo depoimentos e vendo imagens fotográficas e filmes sobre o que estava acontecendo em Gaza. O presidente não é um político tradicional que se mantém frio diante da morte de crianças e mulheres na escala que está acontecendo. Eu acho que o grito de socorro do presidente é pertinente. Não podemos ficar indiferentes ao que está acontecendo, que é muito grave.
Sobre o déficit zero, o ministro admitiu que
pode vir a ser alcançado em outro tempo que não o ano- calendário.
— Enquanto eu for ministro da Fazenda, vou
perseverar nessa direção, porque eu acredito que isso vai trazer muitos
benefícios para o Brasil. Não tenho nenhuma dúvida de que nós estamos fazendo o
que precisa ser feito. Temos que continuar para ter a certeza que esse
resultado (déficit zero) virá. Virá em dezembro, em fevereiro do ano que vem ou
em outubro desse ano, mas virá. Temos que perseverar para que ele venha.
Sobre a relação com o Congresso, Haddad disse
que o que foi acordado entre legislativo e executivo foi cumprido, e só foi
vetado o que não estava no acordo. No caso das emendas de comissão, ficou de
fora o valor que excedeu ao acordado, e também o prazo de empenho das emendas.
Mas o ano será de intensa movimentação da agenda econômica como foi a do ano
passado. Sobre 2023, Haddad lembra que todas as matérias que o governo mandou
foram aprovados, mas nada saiu exatamente como foi enviado ao Congresso, o que mostra
como o governo está aberto à negociação.
— Agora em março, vamos mandar toda a
regulamentação da reforma tributária. O Brasil terá um dos melhores sistemas
tributários do mundo em muito pouco tempo. Tudo que é polêmico, tudo o que é
controverso, tudo o que não houver acordo, vamos discutir. Nós temos que
garantir que acontecerá em 2024 o que aconteceu em 2023.
Perguntei sobre redução de despesas, ele
disse que houve corte de gastos tributários. Mas não só. O Ministério do
Desenvolvimento Social fez cortes no Bolsa Família, excluindo beneficiários não
enquadrados, de R$ 7 bilhões.
—Está havendo um esforço. O Ministério do
Planejamento é que está radiografando melhor essas despesas, e vai começar a
apresentar um conjunto de possibilidades para o presidente da República.
Quis saber sobre o risco de que a transição
ecológica seja capturada por alguns setores, em vez de beneficiar toda a
economia. Ele disse que esse é o ponto central, porque a transformação tem que
beneficiar toda a sociedade, e não “o velho patrimonialismo brasileiro”.
Haddad está otimista em relação à economia
brasileira este ano. Ele acredita que, em junho, os juros americanos vão cair e
isso beneficiará o Brasil. A queda da Selic vai ajudar que o crédito seja um
dos motores do crescimento, que já está sendo revisto para cima pelo mercado.
Perguntei se ele era feliz em um ministério
onde há tanta crise.
— Aqui, você fica muito feliz e muito triste,
todos os dias. É muito intenso, então a cada vitória a gente comemora, brinda,
celebra. No dia seguinte, você pode estar em outra situação completamente
diferente. Então é difícil você estar feliz o tempo todo num cargo como esse.
Mas eu tive vários momentos de muita alegria com o Brasil ano passado, que se
forem mais frequentes vão tornar a nossa vida melhor.
Um comentário:
Grande Haddad!
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