O Estado de S. Paulo
Política externa lulista dá uma boa amostra do que petistas pensam e buscam fazer, apesar de suas tentativas internas esbarrarem na opinião pública e em nossas instituições
Talvez, para alguns, sejam bons tempos aqueles quando, nas eleições passadas, acreditaram na convicção e na sinceridade de Lula e do PT de representarem uma ampla frente democrática. O contexto era apropriado, considerando a atitude antidemocrática do ex-presidente, procurando de todas as maneiras se manter no poder, mesmo por meio de um golpe de Estado. Contudo, a posição lulopetista de contraste com Bolsonaro significa apenas que estava extraindo um dividendo eleitoral, visto que boa parte da população brasileira, aí incluindo liberais e conservadores, estava farta dos arroubos e da falta de solidariedade bolsonarista, particularmente presente durante a pandemia. Ser contra a política bolsonarista não significa, porém, que Lula e o PT sejam democratas.
Quais são, enfim, as suas credenciais? A
política externa lulista dá uma boa amostra do que petistas pensam e buscam
fazer, apesar de suas tentativas internas esbarrarem na opinião pública e em
nossas próprias instituições.
Tomemos o caso da Venezuela. Já são antigas
as convicções de Lula de que esse país tem fortes instituições democráticas,
considerando, sobretudo, como afirmou agora, que lá ocorrem eleições. Ora,
desde quando a mera ocorrência de eleições significa que haja democracia e
liberdade? Países comunistas realizavam e realizam eleições também, claro que
com a aprovação de uma significativa maioria, sempre próxima de 100%. Se não
fosse brincadeira, diriam os mais afoitos, poder-se-ia dizer que foram eleitos
por mais de 100% dos votos, tal o entusiasmo dos eleitores, embevecidos com
violentas ditaduras.
Eleições sem condições de exercício da
liberdade são lixo, salvo para os acólitos que procuram justificar a violência
e a repressão socialista ou comunista, conforme se queira denominar.
O ditador Nicolás Maduro elimina qualquer
tipo de oposição, não permitindo a candidatura de pessoas que lhe possam
enfrentar. Seus tribunais impossibilitam
que verdadeiras lideranças possam disputar as eleições, pois são
verdadeiramente isto: sua propriedade, somente verbalizando e satisfazendo sua
vontade de poder e os anseios de sua dominação. Eleições sem candidaturas
opositoras genuínas são apenas uma piada de mau gosto. E qual foi a
manifestação de Lula? O silêncio, e isso da parte de quem se compraz em viver
tagarelando pelo mundo como se fosse um humanista! Humanista unicamente para seus
amigos, sobretudo os antiocidentais e autoritários.
Como se já não fosse suficiente, nos últimos
anos, toda a opinião pública livre foi sufocada, seja nos jornais, seja nos
meios de comunicação, seja na mídia digital. Não há liberdade de expressão
naquele país. Ainda há poucos dias, a Deutsche
Welle foi proibida de trabalhar, sob o pretexto de ser
“nazista”. Não pode ser sério! Uma empresa pública alemã, da maior seriedade,
simplesmente não pode reportar o que está acontecendo na Venezuela. Deveria, na
opinião de autoritários como Maduro, consortes e assimilados em outros
movimentos e partidos de esquerda, ser mera serviçal do regime. E isso em
relação à Alemanha, de passado nazista, mas que soube se reinventar, assumir
responsabilidades históricas, adotando inteiramente a democracia e as
liberdades. É uma afronta!
Note-se, ainda, que se trata de mero
subterfúgio de uma esquerda autoritária, acostumada – conforme ocorre
igualmente em nosso país – a considerar qualquer voz divergente como “fascista”
ou “nazista”. O procedimento é semelhante ao de Vladimir Putin, ao tentar
justificar sua invasão da Ucrânia e sua guerra por uma “Grande Rússia” e ao
considerar como “nazistas” os ucranianos que não querem a ele se curvar. O que
fez a diplomacia lulista? Não condenou a violência russa, contentando-se com
preconizar uma suposta negociação entre as partes, equiparando o invasor e o
invadido, o agressor e o agredido. Para os “amigos”, sempre a ponderação e a
complacência.
Convicções democráticas não são de nenhum
valor se a sua simpatia for dirigida aos autoritários. Maduro deu-se ao
desplante de expulsar do país o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU,
por divulgar relatório segundo o qual a ditadura daquele país faz uso
sistemático da tortura, da violência sexual e da repressão sistemática e
arbitrária. O regime já está, inclusive, no banco dos réus do Tribunal Penal
Internacional. O que faz a diplomacia lulista, que tanto se gaba de defender os
“direitos humanos”? Será o direito de os ditadores mais cruéis exercerem
livremente a sua dominação?
E, como se não fosse suficiente, partiu para
uma cruzada antissemita tornando-se uma espécie de porta-voz do Hamas. Aliás, a
própria organização terrorista se disse honrada com o seu apoio! Será que o
almejado por ele seja a dominação islâmica por toda aquela região, com o
aniquilamento de Israel, conforme preconizado pelos terroristas em sua carta
fundacional, com a derrubada dos regimes moderados árabes e a própria
inviabilização de uma Autoridade Palestina democrática?
Qual democracia, então?
*Professor de Filosofia na Ufrgs.
4 comentários:
■Denis Lerrer Rosenfield,
.........................Filósofo que tem ideologicamente viés de direita e que por isto bolsonaristas e lulistas o detestam, especialmente os bolsonaristas mais parecidos com os lulistas e os lulistas mais parecidos com os bolsonaristas.
■Deste filósofo-social eu às vezes concordo muito, às vezes concordo zero. Hoje eu achei que seu artigo está irretocável!
O colunista está novamente com amnésia... Até parece que não votou em Bolsonaro, que não fez campanha eleitoral pro Bolsonaro, que não escreveu sobre os méritos da Nova Direita representada e encabeçada por JAIR MESSIAS BOLSONARO...
"Bolsonaristas o detestam"?? Edson, já mentiste melhor noutras oportunidades!
■Não sou da sua laia, Daniel!
Lula precisa ser mais enérgico contra ditaduras de esquerda,Bolsonaro quis implantar uma ditadura aqui,a diferença continua sendo grande.
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