quarta-feira, 19 de junho de 2024

Elio Gaspari - O governo caiu na real

O Globo

Notícias ruins acordaram os doutores

A alta do dólar, a queda da Bolsa e a confirmação de que o aumento da arrecadação era um sonho levaram o governo a admitir a relevância do controle de gastos e a consequente valorização de uma administração comprometida com o feijão com arroz.

Em dois anos de governo, o ministro Fernando Haddad teve vitórias e derrotas. Brilhou com o projeto de reforma tributária, mas seu déficit zero era lorota. Ele conseguiu restabelecer as boas relações de um governo petista com a banca.

Na segunda-feira, Haddad e Simone Tebet, sua colega do Planejamento, mostraram a Lula o dreno provocado pela distribuição de incentivos. A iniciativa tem mérito, mas não tem valor. O Sol congelará antes que um Congresso resolva podar os benefícios dados à Zona Franca de Manaus. Cada incentivo é um jabuti velho, escolado e bem relacionado.

A discussão da política de incentivos, como a taxação das grandes fortunas, é tema que lustra a biografia de quem a propõe, mas não vai a lugar algum.

Infelizmente, o déficit zero era um espécie de pau do circo de Haddad: arrecadando mais, o governo poderia induzir o crescimento. Daí viriam as picanhas prometidas durante a campanha. Sem esse salto arrecadador, Lula 3.0 arrisca tornar-se um governo durante o qual a economia andou de lado.

É melhor andar de lado do que ir galhardamente na direção errada, como sucedeu com a Nova Matriz Econômica do governo de Dilma Rousseff.

Vendo que não pode gastar, Lula terá a oportunidade de se voltar para a boa administração do dia a dia. Apesar do estilo triunfalista do presidente, seu governo vai bem no feijão com arroz. Vai bem mesmo quando é comparado a outros governos, sem levar em conta o caos de Bolsonaro.

Derrapou feio na compra de arroz importado, pretendendo comercializá-lo a preços tabelados. Esse desastre só aconteceu porque no lance estava a mão peluda do interesse político.

Talvez algum petista tenha se lembrado de que, em 1962, o governador gaúcho Leonel Brizola teve mais de 200 mil votos para deputado federal na Guanabara porque vendeu arroz barato em caminhões.

Terminar obras que estão paradas é uma das boas maneiras de administrar o trivial variado. Infelizmente, ela vem sendo instrumentalizada em marquetagens.

Getúlio Vargas foi um presidente de grandes ideias, mas, lendo seu diário, percebe-se a atenção quase obsessiva com a rotina da administração.

Lula, ou qualquer político brasileiro, dispõe de um boqueirão, resgatando o agronegócio e colocando-o na galeria do orgulho nacional, como Juscelino Kubitschek colocou a indústria, no fim dos anos 1950.

Por diversos motivos, Lula jogou fora essa oportunidade, e hoje ela está em cima de um montinho de cal, dentro da pequena área, esperando que alguém bata esse pênalti.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

As notícias ruins infelizmente não vão acabar, a direção do PT quer gastar mais . Sabe que só enchendo o povo de Agrado pode reverter a baixa popularidade em que vive atualmente Lula
Casos de corrupção já fazem parte da realidade do atual governo o escândalo do leilão do arroz não deixa dúvida
Por mais que a mídia e jornalistas torçam e defendam o Lula observamos que o governo está sem rumo e sem programa
A nível internacional isolamento do Brasil é cada vez maior Partido momento que assumiu o lado dos totalitários Rússia e China na guerra da Ucrânia está havendo um distanciamento diplomático da Europa , dos Estados Unidos, Japão e Austrália do Brasil
Sem dizer que as trapalhadas em relação à guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas rendeu a lula o título de persona não grata Situação inédita em toda história da diplomacia brasileira

ADEMAR AMANCIO disse...

Jesus!