O Globo
Com a reforma tributária na reta final, os
carros elétricos entraram, ao lado do tabaco e das bebidas alcoólicas, na lista
dos produtos que pagarão o “imposto do pecado”. Em tese, esse imposto recairá
sobre mercadorias que fazem mal à saúde ou agridem o meio ambiente. Ganha um
fim de semana num incêndio do Pantanal quem souber o que um carro elétrico tem
a ver com isso.
As montadoras nacionais fazem o que podem
contra os carros elétricos, valendo-se do trânsito de que dispõem pelo
corredores de Brasília, mas desta vez exageraram.
Uma reforma tributária que pretende ser
racional acabou acordando o velho monstro do atraso.
A sabedoria convencional ensina que tendo
sido um dos últimos países a abolir a escravidão (em 1888), Pindorama tem um pé
no atraso. A coisa é pior. Até 1850 o andar de cima nacional estava amarrado ao
contrabando de africanos escravizados, uma atividade supostamente ilegal desde
1831.
Admita-se que isso é coisa de um passado remoto, mas o atraso está sempre por aí.
Em 1978, a Associação dos Supermercados
excluiu de seu quadro social a rede Carrefour porque ela aceitava pagamentos
com cartões de crédito. Nessa época, burocratas e espertalhões criaram um
regime pelo qual era mais fácil entrar no Brasil com um pacote de cocaína do
que com um computador.
Encrenca-se com os carros elétricos em nome
de uma proteção ao parque industrial das montadoras. Trata-se de uma jovem
indústria, septuagenária e anacrônica. Enquanto fábricas reinventam-se pelo
mundo afora, no Brasil fala-se em importar linhas de montagem de veículos a
gasolina desativadas pelo progresso. Seria o ProSucata.
Em 2003, os maganos das montadoras viviam
muito bem quando um jovem chamado Elon Musk se meteu no mercado de carros
elétricos e criou a Testla. A China foi na bola e hoje suas montadoras têm a
maior fatia do mercado mundial.
Quando Juscelino Kubitschek dirigiu o
primeiro carro saído de uma montadora de São Paulo, os chineses andavam de
bicicleta. Em matéria de fazer besteiras, a China batia o Brasil de longe.
Pindorama tinha JK, quando a China teve o Grande Salto de Mao Zedong (Mao
Tsé-Tung), com dezenas de milhões de mortos de fome. Os dois países diferem em
muitas coisas, mas a China consegue abandonar as ideias erradas. Enquanto o
Brasil recicla-as.
Fachin avisou
Em 2025, o ministro Edson Fachin assumirá a
presidência do Supremo Tribunal Federal para um mandato de dois anos.
Há duas semanas enquanto Lisboa vivia as
luzes do “Gilmarpalooza”, Fachin disse, numa palestra em Brasília, que
“comedimento e compostura são deveres éticos, cujo descumprimento solapa a
legitimidade do exercício da função judicante.”
Fachin não enfeita farofas e sua fala indica
que, com ele na presidência, o Supremo voltará ao padrão Rosa Weber de
discrição.
Costura com Trump
O braço cosmopolita do bolsonarismo articula
um evento espetacular, caso Donald Trump venha a ser eleito em novembro. Antes
mesmo de sua posse ele fará gestos ostensivos na direção de Bolsonaro e do
argentino Javier Milei.
No mundo dos desejos, admite-se até que ele
passe pelo Brasil antes de janeiro.
De qualquer forma, vale a pena evitar falsas
expectativas. Por maiores que sejam as afinidades de Trump com Milei e
Bolsonaro, a posse de um presidente dos Estados Unidos continuará a ser um
evento doméstico, sem convidados estrangeiros.
Os amigos do novo presidente poderão ir a
eventos privados, mas continuarão fora da agenda oficial.
Uma ideia nova, redundante e ruim
Em busca de uma agenda positiva, como se a
segurança pública precisasse de novidades, o ministro da Justiça, Ricardo
Lewandowski, quer reciclar a Polícia Rodoviária Federal, transformando-a numa
Polícia Ostensiva Federal.
A falta de polícias está longe de ser um dos
males nacionais, mas a criação dessa POF arrisca virar um monumento à
redundância. Na constelação de polícias, está entendido que a Federal tornou-se
um exemplo a ser seguido. Ela funciona como uma carreira de Estado, livre de
maiores influências políticas. Podendo-se expandi-la e aprimorá-la, pensa-se em
fabricar um novo corpo policial. Fala-se numa eventual criação de três mil
cargos. Uma festa.
Nos primeiros meses do Lula 3.0, alguns
çábios de Brasília tiraram da gaveta a ideia da criação de uma Guarda Nacional.
Ela foi ao arquivo diante do desagrado surgido nas corporações militares. Pelo
visto, a bocarra reapareceu.
Moraes aperta o cerco
Quem conhece as investigações do ministro
Alexandre de Moraes, garante:
“Ele está fechando o cerco”.
Os diálogos de dois agentes da “Abin
paralela” mostram quão perto o Brasil esteve de ser controlado por uma
quadrilha de malfeitores. Ambos falavam em matar Alexandre de Moraes.
O balcão do TCU
Enquanto durou, o balcão da Secretaria de
Controle Externo e Solução Consensual e Prevenção de Conflitos fez sua festa.
Abatida em voo pelo advogado-geral da União,
Jorge Messias, a Secex Consenso é defendida por alguns personagens do TCU. Eles
se aborreceram com o que lhes pareceu uma desconfiança de Messias em relação ao
trabalho da secretaria.
Se Messias desconfiava de alguma coisa não se
sabe, mas muita gente desconfiava de muita coisa.
Chorem pelas crianças
Há um ano, Lula chorou quando o União Brasil
exigiu a substituição da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ou Daniela do
Waguinho, o ilustre prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
A doutora nada entendia de turismo e virou
ministra para compensar o apoio dado pelo prefeito Waguinho à candidatura de
Lula.
Tudo bem. Uma operação da Polícia Federal e
do Ministério Público varejou o submundo das despesas de Belford Roxo e
encarcerou o secretário de Educação do município. Foram cumpridos 21 mandados
de busca e apreensão. Na casa de um magano encontraram 300 mil euros e na de
outro, R$ 360 mil em espécie.
Segundo a Federal, o ervanário relaciona-se
com o desvio de recursos de cerca de R$ 6 milhões da merenda escolar das
crianças de Belford Roxo.
Em vez de chorar por Daniela do Waguinho,
Lula podia ter derramado algumas lágrimas pelas crianças de Belford Roxo. O
município tem a 5ª pior rede de saneamento entre as cem maiores cidades do país
e é uma das melhores fornidas no empreguismo. De cada dez servidores, oito
entraram sem concurso, pelas janelas do nepotismo.
Uma ilusão chinesa
Um ano depois de ter sido anunciado com
fanfarra, o acordo operacional da chinesa Shein com a Coteminas acabou-se num
suspiro.
No mundo encantado de Brasília, a Shein se juntaria à rede Coteminas, produzindo para o mercado brasileiro e para a América Latina. O presidente da Shein para a América Latina chegou a anunciar um investimento de US$ 50 milhões e programas de treinamento. Tudo fantasia. O plano nunca saiu do papel e só quem ganhou alguma coisa com ele foram uns poucos atravessadores.
2 comentários:
Excelente coluna !
Os agentes da ABIN paralela falavam em matar Alexandre de Moraes... O presidente Bolsonaro discutia uma medida golpista que dissolvia o TSE e prendia o seu presidente, Alexandre de Moraes.
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