sexta-feira, 29 de novembro de 2024

60 anos depois - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Por que o golpe de Estado não vingou? A reação contrária dos comandos do Exército e da Aeronáutica foi decisiva, mas não foi o único fator a salvar o Brasil de mais um golpe militar. À não adesão das Forças Armadas, somaram-se a falta de “povo” e o firme recado internacional pró-democracia, particularmente do governo Joe Biden.

Sem os comandos militares, o “povo” e os Estados Unidos, como o capitão Jair Bolsonaro e um bando de valentões poderiam repetir o golpe de 1964, que nos roubou 20 anos de democracia? O de 2022 não teve força para ser concluído – o que não minimiza o crime nem deve minimizar as penas.

Bolsonaro não se elegeu presidente para governar, mas sim para dar o golpe dos seus sonhos, e para isso transformou o Planalto num bunker de generais, atraiu oficiais das demais patentes ao custo de privilégios, cooptou as polícias militares, em especial a do DF, armou a sua milícia civil e fanatizou milhões de brasileiros via internet.

Nada, porém, evoluiu como ele e seus golpistas esperavam. O general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Jr. disseram, olho no olho, para o então comandante em chefe das Forças Armadas que nem eles nem os altos comandos do Exército e da FAB apoiavam a maluquice. O almirante Almir Garnier, que comandava a Marinha, foi o único dos três a entrar para a história como golpista.

Bolsonaro nunca governou, viajando pelo País para atrair multidões para as ruas e manter uma mobilização constante do “povo” contra as instituições e pela volta da ditadura militar – como já diziam as faixas nas manifestações já no início do governo Bolsonaro. A guerra contra as urnas eletrônicas era parte da estratégia. As tentativas de invadir a sede da PF e de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, também.

Apesar de submetida a uma intensa incitação ao crime, a sociedade brasileira não caiu na esparrela. Os idiotas que se embolaram na lama (em duplo sentido) ao redor do QG do Exército, em Brasília, e os que se uniram a eles no 8 de Janeiro para depredar Planalto, Congresso e STF podem ser contados nos dedos. Na prisão, têm de parar de “mimimi” e passar a agir como “machos, não como maricas”, como lhes ensinou o Messias na pandemia.

Por último, os EUA foram tão decisivos para o golpe de 1964 como para inibir o golpe de 2022 no Brasil, avisando durante toda a campanha eleitoral que apoiariam imediatamente o candidato eleito. Cumpriram a promessa. O governo Biden foi o primeiro a reconhecer a vitória de Lula.

As condições do Brasil e do mundo em 1964 eram umas e, em 2022, outras. Como serão com Donald Trump de volta, Bolsonaro encarando a prisão, a sociedade brasileira dividida e manipulada por fake news? Dessa vez, nos livramos de um novo golpe, mas nunca é demais botar as barbas de molho.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Eliane por linhas as tortas você falou o seguinte ; os mesmos Norte-americanos que pressionaram pela posse e reconhecimento da vitória do Lula agora estão contra ele Principalmente que ele está de braço dado com a China Inimigo dos Estados Unidos
A maré virou e da mesma forma vão intervir a favor do Bolsonaro é só aguardar muita coisa vai mudar

ADEMAR AMANCIO disse...

E tudo verdade,Eliane.