Correio Braziliense
O uso da violência por extremistas de direita
no Brasil pode, sim, ser enquadrado como terrorista, porque visam
desestabilizar a ordem pública e atacar instituições democráticas
O objetivo de Francisco Wanderley Luiz, autor
das explosões na Praça dos Três Poderes, era matar o ministro Alexandre de
Moraes, do Supremo Tribunal Federal, segundo depoimentos de familiares à
Polícia Federal (PF). Ele também havia revelado à ex-mulher, Dayane Dias, que
pretendia se matar após o atentado, o que acabou ocorrendo durante o confronto
com a segurança do STF. Chaveiro, de 59 anos, Wanderley fora candidato a
vereador do PL, em 2020, no município de Rio do Sul (SC). Era um bolsonarista
fanático.
Desde a derrota de Jair Bolsonaro, em 2022, Wanderley falava que pretendia matar o ministro Moraes, tendo se preparado para isso longamente. Fez viagens a Brasília, visitou o plenário do Supremo, percorreu corredores da Câmara e rondou a Praça dos Três Poderes, tudo registrado em postagens nas redes sociais. No começo da noite de quarta-feira, impedido de entrar no prédio do STF, lançou uma bomba contra a estátua da Justiça, duas contra os seguranças do Supremo e se matou, ao acionar uma quarta bomba sob a cabeça, após se deitar no chão.
Outra explosão ocorreu no porta-malas do seu
carro, que estava no estacionamento próximo ao Supremo. A polícia ainda
encontrou um trailer com explosivos e outros artefatos na casa que usou como
"aparelho", que alugara em Ceilândia. Wanderley compartilhava os
planos e ameaças nas redes sociais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reforçaram a
segurança de seus respectivos poderes e repudiaram a ação terrorista.
O presidente do STF, Luiz Roberto Barroso,
fez um discurso na abertura da sessão da Corte no qual condenou esse e outros
ataques às instituições do Poder Judiciário, como as ofensas feitas pelo
ex-deputado Daniel Silveira e ações de extremistas e apoiadores do
ex-presidente Jair Bolsonaro. O Código Penal Brasileiro, em sua Lei
Antiterrorismo (Lei 13.260/16), define terrorismo como o uso de violência ou
ameaça para provocar terror social ou generalizado, com fins de coagir
autoridades ou o público em geral.
O uso da violência por extremistas de direita
no Brasil pode, sim, ser enquadrado como terrorista, porque visa desestabilizar
a ordem pública e atacar instituições democráticas. Desde os ataques ao
Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, são o resultado da desinformação causada
pelas fake news, das teorias de conspiração, da polarização política e do
discurso do ódio, que se disseminam pelas redes sociais.
Após a confirmação da vitória de Lula em
outubro de 2022, apoiadores radicais de Bolsonaro bloquearam estradas em vários
estados, muitas vezes recorrendo à violência e às ameaças para forçar
caminhoneiros a aderirem aos bloqueios. Pretendia-se desestabilizar o país e
pressionar as Forças Armadas a intervirem contra o resultado das eleições.
Em dezembro de 2022, poucos dias antes da
posse de Lula, foi descoberta uma tentativa de atentado com explosivos em
Brasília. O empresário George Washington de Oliveira Sousa, apoiador de
Bolsonaro, foi preso com armas e explosivos. Ele pretendia usar os explosivos
para gerar caos e impedir a posse do novo presidente. Segundo as autoridades, o
plano envolvia detonar um caminhão-tanque perto do aeroporto da capital.
Subiu no telhado
Esses episódios ocorreram no contexto de
manifestações em frente a quartéis pedindo uma intervenção militar. Fanáticos
da extrema-direita, incluindo ex-militares, incentivaram e participaram dessas
ações e defendiam abertamente um golpe para anular as eleições e impedir Lula
de tomar posse.
Foi nesse contexto que, uma semana após a
posse de Lula, milhares de manifestantes invadiram e vandalizaram os prédios do
Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo.
A explosão que matou Wanderley implodiu
também qualquer possibilidade de aprovação de uma anistia para Bolsonaro, que
está inelegível, e aos participantes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro,
que estão sendo investigados, processados e condenados pelo STF. O ministro
Moraes, responsável por esses inquéritos, também será o responsável pelo
atentado de Wanderley.
Havia um acordo em andamento entre o PL e os
candidatos favoritos às presidências do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e
da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que a anistia dos envolvidos no 8
de janeiro de 2023 entrasse em pauta nos plenários das duas Casas. Esse acordo
subiu no telhado. Primeiro, porque o barulho das explosões de quarta-feira
chegou aos plenários das duas Casas, em alto e bom som. Tornou evidente que o
flerte com os fanáticos de extrema-direita ligada a Bolsonaro é um perigo não
debelado para a democracia.
Segundo, porque a opinião pública tende a se
solidarizar com o Supremo, ainda que o descontentamento da sociedade com muitas
decisões dos ministros da Corte faça parte do caldo de cultura para o que
ocorreu.
2 comentários:
Incentivar violência dá no que deu.
Como diria minha avó:
"Ei, Bolsonaro, tomou, papudo?"
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